Bacia do rio São Francisco e as mudanças climáticas

Nesta aula, o engenheiro Francisco de Assis, da Universidade Federal do Ceará, aponta os impactos da mudança do clima na Bacia do Rio São Francisco e em todas as atividades que dependem de suas águas, como a geração de energia por meio de hidrelétricas, o abastecimento urbano e a agropecuária.

Destaques da aula:
    • Para avaliar os impactos das mudanças climáticas na Bacia do Rio São Francisco é preciso observar água, clima, alimento e energia.
    • A Bacia do Rio São Francisco abriga as hidrelétricas de Três Marias, Itaparica, Sobradinho e Xingó.
    • Atualmente, a vazão mínima do Rio São Francisco é de 1000 m³/s. Esse volume, em 2012, era de 1800 m³/s.
    • A agropecuária será impactada pela mudança no clima, e culturas disseminadas na região terão sua produtividade reduzida.
    • Uma das maiores incertezas em relação ao tamanho do impacto das mudanças climáticas refere-se ao comportamento que a sociedade terá ao longo do tempo.

A Bacia do Rio São Francisco é fundamental para o desenvolvimento social e econômico da região onde está inserida. Porém, atividades humanas e a alteração climática estão causando impactos importantes no regime das águas, o que traz consequências em diferentes âmbitos.

Um dos setores que já sofre com a redução do volume de água é o hidrelétrico. A Bacia do Rio São Francisco é muito marcada por este segmento e abriga os reservatórios de Três Marias, Itaparica, Sobradinho e Xingó. Desde 2012, a vazão do Rio São Francisco está mais baixa, o que diminui a capacidade de geração de energia. Ao mesmo tempo, o aumento da temperatura eleva a demanda energética por parte das cidades.

Atualmente, a vazão mínima do Rio São Francisco é de 1000 m³/s. Este volume em 2012 era de 1800 m³/s. Essa redução da vazão se dá pelas mudanças no ciclo hidrológico. Com a elevação da temperatura, acontece mais evapotranspiração, mas as chuvas na região não necessariamente aumentam na mesma proporção, devido à movimentação das nuvens e outras dinâmicas atmosféricas. 

Não há como prever precisamente qual será o comportamento do clima e das águas, mas a ciência trabalha com modelos que desenham cenários possíveis, e a maior parte deles aponta uma perspectiva de agravamento de situações de secas e cheias extremas na Bacia do Rio São Francisco nas próximas décadas, considerando-se o aquecimento global de 2ºC.

Frente a esse panorama de menos chuvas e de redução da vazão dos rios, outro segmento que sofrerá consequências negativas será o da agropecuária.Culturas hoje disseminadas na região, como as de algodão, milho, feijão e soja, devem ter sua produtividade impactada. 

Apesar desses riscos e projeções, as emissões de gases causadores de efeito estufa (GEE) na região da Bacia do Rio São Francisco não têm sido reduzidas – houve, inclusive, um ligeiro aumento nas emissões provenientes da agropecuária nos últimos anos. 

A maior incerteza em relação ao tamanho do impacto das mudanças climáticas é o comportamento que a sociedade terá, uma vez que a redução de emissões de GEE depende de decisões políticas e sociais tomadas ao longo do tempo.

Saiba mais:
Livro
“SECAS E CHEIAS: Modelagem e Adaptação aos extremos hidrológicos no contexto da variabilidade e mudança do clima”
Projeto Adapta
Adapta: gestão adaptativa do risco climático de seca
MapBiomas
São Francisco perdeu 50% da superfície de água nas últimas três décadas
Filme
Seaspiracy
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
Relatório Mudança Climática 2022: Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade
Aulas – Cursos ClimaInfo
Água e Nordeste, por Samuel Barrêto
Oceanos, clima e os impactos da indústria pesqueira, por Ana Paula Prates
Sistemas costeiros e marinhos  na Amazônia, por Valdenira Ferreira dos Santos
Impactos das mudanças climáticas no Matopiba, por Ludmila Rattis
Clima Sem Fake
Apagão de chuvas, verão de torneiras secas, com Américo Sampaio
Crise hídrica ou o novo normal?, com Samuel Barrêto
Entenda a crise hídrica no Brasil, com Paulo Artaxo

Sobre o professor:

Francisco de Assis é professor do departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC); cientista-chefe na área de Recursos Hídricos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará (FUNCAP) e coordenador acadêmico adjunto da área Engenharias I da CAPES. Graduado em Engenharia Civil, possui mestrado em Engenharia Hidráulica e Saneamento, e doutorado em Engenharia Civil. Francisco coordena o grupo de pesquisa “Gerenciamento do Risco Climático para a Sustentabilidade Hídrica” da UFC.