Uma semana depois da visita a Atalaia do Norte (AM), os membros da comissão externa do Senado que acompanha as investigações sobre os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips requereram ontem (6/7) o afastamento do presidente da FUNAI, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier. Os parlamentares reforçam assim o coro de servidores do órgão que, desde a descoberta dos crimes, exigem a saída de Xavier, acusado de perseguir funcionários e enfraquecer o trabalho de proteção dos Povos Indígenas.
Segundo informou O Globo, a comissão do Senado também encaminhou requerimentos aos ministérios da justiça e relações exteriores para obter acesso a informações sobre as investigações e acionar representantes diplomáticos do Peru e da Colômbia para pedir mais segurança do outro lado da fronteira. Outra requisição dos senadores pede o compartilhamento de informações sobre a morte de Maxciel Pereira dos Santos, servidor da FUNAI assassinado em Tabatinga (AM) em 2019, nas proximidades de onde Bruno e Dom foram executados no mês passado.
“Sabe o terror? Isso vai te destituindo, vai aviltando nossas resistências. Estão matando amigos nossos”, desabafou Bruno Pereira à jornalista Nádia Pontes, da Deutsche Welle, em 2020, pouco depois da morte de Maxciel. “Isso tudo é reflexo desses caras, dessa política genocida”. Dois anos e quatro meses depois desta fala, o próprio Bruno seria vítima da violência contra os defensores dos Povos Indígenas. Na entrevista, publicada agora na íntegra, Bruno apontou como o governo federal atuou para enfraquecer e aparelhar a FUNAI.
Hoje o Parlamento Europeu deve votar uma resolução cobrando do governo brasileiro uma investigação independente e imparcial sobre as mortes de Bruno e Dom. Ana Carolina Amaral informou na Folha que os europarlamentares também pedirão às autoridades do Brasil ações imediatas para prevenir violações aos Direitos Humanos e proteger defensores do meio ambiente no país. “[A aprovação da resolução] é um forte sinal de que o Parlamento Europeu condena claramente os assassinatos cada vez mais frequentes de indígenas e defensores da natureza no Brasil e identifica claramente a responsabilidade do governo [atual] na crescente violência contra os Povos Indígenas, bem como nas crescentes taxas de desmatamento a ela associadas”, observou Anna Cavazzini, representante do Partido Verde alemão no Legislativo da UE.
Ainda sobre a violência na Amazônia, Sylvia Colombo escreveu na Folha sobre como o medo ainda marca o cotidiano na floresta amazônica colombiana. O cenário é semelhante ao do lado brasileiro da fronteira: desmatamento em alta, fiscalização em baixa, defensores da floresta e dos indígenas sendo alvo de ataques incessantes de criminosos e interesses econômicos poderosos.
Já no Peru, Dan Collyns abordou no Guardian a contradição do discurso otimista das autoridades do país com o combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas na Amazônia e o aumento da atividade criminosa na região. Tal como na Colômbia, a floresta serviu por décadas como refúgio para guerrilhas e, agora, grupos criminosos estão tomando conta da área e assumindo a dianteira na produção e venda de cocaína.
ClimaInfo, 7 de julho de 2022.
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