IPBES: superexploração das espécies selvagens ameaça sobrevivência de bilhões de pessoas

espécies selvagens
Paul Hilton / Earth Tree

A intensificação da degradação ecossistêmica e da crise climática está colocando em risco a sobrevivência de cerca de 10 mil espécies da fauna e da flora terrestres que estão na base das necessidades alimentares imediatas de cerca de 2,4 bilhões de pessoas em todo o mundo. Se essa diversidade biológica desaparecer, os efeitos sobre a segurança alimentar serão catastróficos, especialmente nos países em desenvolvimento. O alerta é da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES), um painel de cientistas organizado pela ONU, que lançou um novo relatório na semana passada.

O relatório sobre uso sustentável de espécies silvestres é resultado de quatro anos de trabalho, com o envolvimento de 85 cientistas de destaque, além de outros 200 colaboradores. Ele identifica cinco grandes categorias de práticas no uso de espécies selvagens: pesca; coleta; exploração madeireira; colheita de animais terrestres (incluindo caça); e práticas não extrativistas, como turismo. Para cada prática, o documento examina usos específicos, como alimentos e rações, materiais, remédios, energia, lazer, decoração, entre outros.

O diagnóstico geral é de que o uso de espécies selvagens pelo ser humano aumentou nas últimas duas décadas, o que colocou alguns desses usos em uma situação de insustentabilidade – ou seja, a exploração excessiva dessas espécies supera sua capacidade natural de regeneração, o que pode resultar em colapso futuro.

“Com cerca de 50 mil espécies selvagens usadas em diferentes práticas, incluindo mais de 10 mil espécies colhidas diretamente para alimentação humana, as populações rurais dos países em desenvolvimento correm maior risco de uso insustentável, com a falta de alternativas complementares, muitas vezes forçando-as a explorar ainda mais as espécies selvagens que resistem e estão sob ameaça”, observou Jean-Marc Fromentin, cientista francês que copresidiu o grupo de trabalho responsável pelo relatório, ao lado de Marla Emery (EUA/Noruega) e John Donaldson (África do Sul).

Associated Press, BBC, Correio Braziliense, Guardian, RFI e NY Times repercutiram a análise do IPBES.

Em tempo: Depois de remarcar a realização da COP15 da Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) para o Canadá, por conta da situação da COVID na China, os negociadores da ONU estão sendo pressionados a antecipar a conferência para evitar que ela encavale com a Copa do Mundo de Futebol do Catar, que também acontecerá em dezembro. A secretária-executiva da CBD, Elizabeth Maruma Mrema, alertou aos líderes mundiais que permaneçam focados nas negociações, sem perder de vista a importância do tema e se deixar levar pela distração esportiva. O Guardian deu mais detalhes.

 

ClimaInfo, 11 de julho de 2022.

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