Energias renováveis e o potencial no Nordeste

Nesta aula, o especialista em planejamento energético do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), Ricardo Baitelo, fala sobre os principais conceitos sobre energia renovável. Explica o que é transição energética e o debate em torno do tema, discorre sobre as energias renováveis disponíveis no Brasil e o potencial de geração de empregos; apresenta as diferenças entre energia térmica e hidrelétrica; e defende a capacitação para geração de renda e empregos e qual é o papel do Nordeste como potência em energias renováveis para o Brasil.

Destaques da aula:
  • Diferentemente das energias por fontes renováveis, a energia fóssil tem como fonte recursos finitos.
  • Todos os países têm a responsabilidade de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, e existem compromissos nacionais, mas, até 2050, é preciso mudar as matrizes elétrica e energética para 100% de renováveis.
  • O Brasil tem um potencial invejável de todas as formas de energias renováveis, sejam elas hidrelétrica, solar, eólica, dos oceanos ou energia gerada a partir da biomassa, então, os recursos naturais estão presentes.
  • A eólica e a solar são as duas formas de energia mais baratas da matriz elétrica hoje.
  • O Nordeste tem um potencial enorme para todas as fontes renováveis. A região possui as ferramentas e todos os recursos necessários para poder ter um desenvolvimento econômico e sustentável por meio de investimentos em energias renováveis.
  • Existem políticas de regulação geral sobre a organização dos leilões de energia para parques eólicos de grande porte, usinas solares. Mas, os leilões podem ser organizados também pela iniciativa privada.
  • Há oportunidades de geração de emprego e renda na área de energias renováveis. Para isso, é preciso aumentar os cursos de capacitação.

Como o próprio nome já diz, as energias renováveis são aquelas compostas a partir de matérias que se renovam. Entre elas estão a biomassa, os óleos vegetais, assim como a energia solar e a energia eólica. Já as fósseis, como carvão, petróleo e gás natural (dependendo da fonte) são recursos que podem acabar em algum dia.

Segundo Ricardo Baitelo, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), a discussão das energias renováveis começou há mais de cinquenta anos, nos choques de âmbito político em relação à energia e aos países produtores, onde surgiram as primeiras respostas às seguintes perguntas: “quais são as alternativas para o petróleo? ” e ” Por que alguns países do mundo são tão dependentes dele?”. Naquela época, os Estados Unidos intensificaram as pesquisas em energias renováveis e em eficiência energética – mas não tinham uma motivação ambiental.

A partir da constatação de que a concentração de gases de efeito estufa no planeta, principalmente de CO2, e o consequente impacto no aumento da temperatura provocada por ações humanas, os países vêm discutindo, no âmbito da ONU, possíveis compromissos e metas para a redução desses gases. Sabe-se que as matrizes energéticas dos países precisam migrar das fósseis para renováveis, sobretudo nos transportes. Para conter o aquecimento, faz-se necessário que 100% da energia seja de fontes renováveis até 2050.

Há várias propostas para uma transição energética, e algumas questões ainda exigem debate, tais como “o que acontece com as energias fósseis?”,  “em que intervalo de tempo é planejada a retirada dessas energias?” e se isso “é viável, e para quando?”.

O que está em curso, agora, é a discussão sobre o uso do carvão – que é o maior emissor de gases de efeito estufa. É preciso ver economicamente como encurtar a vida útil dessas usinas e analisar se é possível substituir essa fonte por biomassa; além de equacionar o impacto social dos trabalhadores com o fim dessas usinas.

Segundo Baitelo, o Brasil tem um potencial invejável de todas as formas de energias renováveis, sejam elas hidrelétrica, solar, eólica, dos oceanos, ou energia gerada a partir da queima da biomassa.

“O Brasil tem um equilíbrio de todos eles. Mas o recurso natural não é o único fator e, na verdade, nem é o maior fator para garantirmos que a energia renovável vai virar eletricidade, ou o combustível, no caso. As políticas públicas são importantes para viabilizar uma energia que, a princípio, é cara, porque não tem escala, e está em um estágio experimental. Felizmente, boa parte dessas renováveis já passou dessa fase, então, é economicamente viável e competitiva, não só a hidrelétrica, como era no passado, mas a eólica e solar hoje”, explica.

O especialista destaca que a região do Nordeste tem um potencial enorme para todas as fontes renováveis. “O Brasil tem um sistema interligado único. Das grandes economias do mundo, é o único [país] com um sistema único. (…) Nós temos só um estado brasileiro, que é Roraima, não ligado ao sistema. Isso permite que a gente transporte energia do Sul para o Norte ou do Norte para o Sudeste. Ao longo do tempo, o Nordeste passou a ser exportador de energia, porque existe uma época do ano, principalmente de maio a novembro, onde os regimes de vento são ideais, e há grande produção eólica”, esclarece. Para ele, o Nordeste tem todas as ferramentas e todos os recursos para poder ter um desenvolvimento econômico e, se for feito da maneira certa, sustentável.

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Sobre o professor:

Ricardo Baitelo é gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Doutor em planejamento energético pela Escola Politécnica da USP, foi gerente de Clima e Energia e coordenador da campanha de energias renováveis do Greenpeace Brasil (2007 a 2020). É pesquisador do Grupo de Planejamento Integrado de Recursos na USP e professor convidado das disciplinas com tópicos em desenvolvimento sustentável e planejamento integrado de recursos na pós-graduação da Poli-USP.