Impactos econômicos e sociais das mudanças climáticas no Brasil

Nesta aula, o professor Paulo Artaxo traz informações sobre o relatório Mudanças Climáticas 2022 – Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, divulgado em fevereiro de 2022 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O documento mostra o cenário presente e indica os panoramas futuros para o mundo diante do aquecimento global e da crise climática, apontando impactos já irreversíveis causados pelas emissões de gases de efeito estufa (GEEs) decorrentes, principalmente, da ação humana.

Destaques da aula:
    • As emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs) seguem crescendo de 2% a 4%, a cada ano. Em 2015, a ciência já indicava a necessidade de uma redução anual de 7%, a partir de 2020, para zerar as emissões até 2050, limitando o aumento da temperatura do planeta abaixo de 2°C.
    • Atualmente, o aquecimento global está em 1,1°C, e o mundo tem a temperatura média mais quente dos últimos 100 mil anos.
    • Há cem anos, a concentração de CO₂ na atmosfera era de 280 partes por milhão (ppm) e, hoje, é 414 ppm – uma elevação de 66%.
    • 30% das emissões globais estão associadas à produção de alimentos; e 83% provêm diretamente da queima de combustíveis fósseis.
    • As emissões brasileiras provêm, principalmente, da mudanças no uso do solo (44%); do setor agropecuário (28%) e da produção de energia (19%). 
    • O último relatório do IPCC demonstra que limitar o aquecimento a 2°C é impossível com as emissões cumulativas já realizadas pela humanidade.
    • Segundo os cientistas, o futuro mais provável é um aumento médio da temperatura global da ordem de 3,2°C.

O relatório Mudanças Climáticas 2022 – Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade, divulgado em fevereiro pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), aponta que a crise climática é real e, em parte, irreversível. O tema é debatido, com produção científica embasando as discussões, desde 1972, quando foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como Conferência de Estocolmo. Ainda assim, as emissões globais de gases de efeito estufa (GEEs) seguem crescendo de 2% a 4% anualmente.

Nem mesmo o Acordo de Paris, assinado em 2015, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 21), por 195 países-membro da Organização das Nações Unidas (ONU), fez com que o comportamento da humanidade fosse modificado de forma efetiva. O texto já destacava a necessidade de uma redução nas emissões em 7% ao ano, a partir de 2020, a fim de zerar as emissões em 2050, mas, apesar dos alertas, o mundo está indo na direção oposta.

Atualmente, o aquecimento global já está em 1,1°C (na comparação com o período pré-industrial), e o mundo tem a temperatura média mais quente dos últimos 100 mil anos. Este aquecimento resulta de um modelo de desenvolvimento baseado extensivamente no uso não sustentável dos recursos naturais e da emissão de GEE para produção de bens de consumo, energia, alimentos, entre outros. Há cem anos, a concentração de CO₂ na atmosfera era de 280 partes por milhão (ppm) e, hoje, é 414 ppm – uma elevação de 66%.

As emissões globais estão 30% associadas à produção de alimentos; 83% delas provêm diretamente da queima de combustíveis fósseis.

No Brasil, as emissões são 44% provenientes de mudanças no uso do solo, o que inclui o desmatamento dos biomas, especialmente da Amazônia. Outros 28% são gerados pelo setor agropecuário, e 19% estão associados com à produção de energia. Essa composição apresenta uma vantagem estratégica para o país, que poderia reduzir em 44% as emissões sem mudanças drásticas no modelo de desenvolvimento e com benefícios adicionais para a economia e a sociedade.

O país já demonstrou que essa mudança é possível, quando reduziu o desmatamento na Amazônia de 28 mil km² para 4 mil km² ao ano, entre 2003 a 2013. Atualmente, a destruição da floresta voltou a aumentar e está em 13 mil km² anuais.

Para enfrentar globalmente a questão das mudanças climáticas, a ONU definiu também os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), que englobam 169 metas em diferentes frentes, passando por energia, clima, água, biodiversidade, redução da pobreza, consumo e produção responsáveis, modelos de produção, entre outros.

Contudo, todos os esforços diplomáticos seguem sem resultados efetivos. O último relatório do IPCC demonstra que limitar o aquecimento global a 2 °C é impossível com as emissões cumulativas já realizadas pela humanidade. As possibilidades reais vão de um cenário onde não há mudanças nas emissões, chegando-se a um aquecimento de 4,3°C, até um panorama em que o Acordo de Paris é cumprido à risca, e o planeta aquece 2,8°C.

Segundo os cientistas, o futuro mais provável é o de um aumento médio da temperatura global da ordem de 3,2°C, o que resultará em elevação dos níveis dos oceanos, acidificação das águas, mudança nos regimes de chuvas, aumento em frequência e intensidade dos eventos extremos, entre outros impactos. Se considerarmos apenas as áreas continentais, a elevação da temperatura será de, em média, 4,2 °C. Nos ambientes urbanos, a elevação chegará a 5,6°C.

No Brasil, a probabilidade frente a esse cenário é a de um clima mais seco, o que pode impactar a produção agrícola e a geração de hidroeletricidade. Outra vulnerabilidade importante do país envolve os oito mil quilômetros de costa marinha, devido à elevação do nível do mar.

É urgente e necessário olhar para esse cenário bastante provável e pensar em medidas de mitigação que protejam os ecossistemas e, principalmente, as cidades, onde vivem 80% da população mundial.

Saiba mais:

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Aula Mudanças climáticas, Amazônia e sustentabilidade, por Paulo Artaxo
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)
Relatório “Mudanças Climáticas 2022 – Impactos, Adaptação e Vulnerabilidade
Relatório “Climate change 2021”
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Sobre o professor:

Paulo Artaxo é professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP e é membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Trabalha com física aplicada a problemas ambientais, atuando principalmente nas questões de mudanças climáticas globais, meio ambiente na Amazônia, física de aerossóis atmosféricos, poluição do ar urbana e outros temas. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS), da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP), da coordenação do Programa FAPESP de Mudanças Globais e da Rede CLIMA, do Ministério de Ciência e Tecnologia. Tem mais de 450 publicações e é um dos cientistas brasileiros mais citados mundialmente.