Hidrogênio verde e a transição energética no Brasil

Nesta aula, Mônica Saraiva Panik, mentora de Mobilidade a Hidrogênio da SAE Brasil, discorre sobre como – entre as soluções das mudanças climáticas –  está a transição para o uso de energia mais limpa e menos poluente. Entretanto, para que tal transição seja justa, deve-se considerar as pessoas envolvidas no processo para um desenvolvimento economicamente sustentável e inclusivo. O Nordeste é considerado uma potência para as energias renováveis, como a solar e a eólica, em substituição aos combustíveis fósseis que levaram à emergência climática. A região, bem como outras partes do Brasil, desponta como um dos potenciais líderes na corrida mundial para a produção do hidrogênio verde.


Destaques da aula:
  • O Brasil tem grandes oportunidades no novo setor do hidrogênio verde.
  • 95% das empresas que integram o Hydrogen Council (Conselho Global do Hidrogênio), e 61% dos membros-apoiadores (outra categoria de associados) têm subsidiárias no Brasil.
  • 70% dos custos do hidrogênio verde (ou hidrogênio renovável) são de eletricidade. O desafio é reduzir os custos dos equipamentos.
  • O Brasil não aparecia no mapa do hidrogênio verde até fevereiro de 2021, quando o Ceará lançou o primeiro HUB de Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém. Hoje, existem várias iniciativas em todo o país.

    A mentora de Mobilidade a Hidrogênio da SAE Brasil, Mônica Saraiva Panik, explica que o hidrogênio verde (ou hidrogênio renovável) é aquele produzido por meio da eletrólise, que por uma corrente elétrica, quebra a molécula da água (H2O) em hidrogênio e oxigênio, produzindo calor. 

    “O Brasil é um país riquíssimo e tem grandes oportunidades nesse novo setor que está surgindo, que é o setor do hidrogênio e, especialmente, do hidrogênio renovável”, afirma. Mônica Panik explica que isso acontece porque a matriz brasileira já é essencialmente renovável (80%). O país possui inúmeras fontes renováveis para a produção do hidrogênio, e o setor elétrico brasileiro já tem uma infraestrutura capaz de beneficiar essa área.

    Segundo Mônica, 70% dos custos do hidrogênio verde (ou hidrogênio renovável) são  ligados à eletricidade. O desafio é o custo dos equipamentos, que precisam reduzir. Entre as condições favoráveis para o Brasil, tornando o hidrogênio verde competitivo, estão todos os incentivos e as políticas do setor de energia renovável e também do setor de biocombustível. 

    Pesquisa recente, realizada pelo Hydrogen Council (Conselho Global do Hidrogênio), aponta que 95% das empresas membros desse conselho, e 61% dos membros-apoiadores (outra categoria de associados) têm subsidiárias no Brasil. Também existem projetos-piloto de produção do hidrogênio verde – iniciados a partir de um edital da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em 2016. 

    Mônica conta que dois projetos ganharam o edital e estão operando até hoje – um da Companhia Energética de São Paulo (CESP), e o outro em Furnas, entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Eles estão produzindo hidrogênio a partir da energia hidrelétrica, em combinação com a energia solar. Nesses projetos, eles reconvertem o hidrogênio em eletricidade. É um processo inverso, no qual é utilizada a energia de pico, solar ou hidrelétrica.

    “O objetivo era identificar os picos de produção desses parques geradores e armazenar essa energia que não seria utilizada em hidrogênio. Você produz o hidrogênio durante esses picos da hidrelétrica ou da solar. Depois, se quiser, utiliza um outro equipamento, chamado célula combustível, ou também turbinas de combustão que fazem o processo inverso, ou seja, transformam o hidrogênio junto com o oxigênio de novo em eletricidade e água”, explica a especialista.

    Outro projeto-piloto envolveu a construção de quatro ônibus movidos a células combustíveis e um posto de produção e abastecimento de hidrogênio na Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), na Região Metropolitana de São Paulo. O projeto foi financiado pelo GEF (sigla em inglês de Global Environment Facility) e implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em cooperação com o Ministério de Minas e Energia, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e a EMTU. Esses ônibus operaram com passageiros (de janeiro a março de 2016) e chegaram a transportar 18 mil passageiros na região metropolitana de São Paulo, chegando a uma distância de 12 mil quilômetros rodados. A experiência permitiu a capacitação de mão de obra, o envolvimento da indústria nacional nessas novas tecnologia e todo o processo de certificação das plantas, de certificação de homologação dos ônibus (feito dentro das Normas e Leis brasileiras).

    De acordo com Mônica, o Brasil não aparecia no mapa do hidrogênio verde até fevereiro de 2021, quando o Ceará lançou o primeiro HUB de Hidrogênio Verde, no Complexo do Pecém. Existem, ainda, outras iniciativas em Porto do Açu, no Rio de Janeiro; no Porto Suape, em Pernambuco; no Rio Grande do Norte; e também parcerias entre empresas com projetos em quatro estados do Nordeste (Bahia, Ceará, Pernambuco e Piauí). 

    Outros estados também lançaram programas, como Minas Gerais, com o Programa Minas do Hidrogênio; e Rio Grande do Sul, que está atraindo investimentos para a produção do hidrogênio na região. A Embraer (com sede em São José dos Campos, em São Paulo), está com o programa Energia Family; e existem ainda empresas em Cubatão (SP) e em Camaçari (BA) investindo no hidrogênio verde.

Saiba mais:

Cursos ClimaInfo
Aula “Energias renováveis e o potencial do Nordeste”, por Ricardo Baitelo
Aula “O potencial do hidrogênio verde no Nordeste brasileiro, por Daniel Lopes
Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA)
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Energias renováveis e gênero, com Izana Ribeiro
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Webinars
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Alternativa de investimento verde inclusivo já – Energia

Sobre a professora:

Mônica Saraiva Panik é brasileira e trabalha na Alemanha desde 1998, na área de estratégia e desenvolvimento de novos negócios e gerenciamento de projetos nas áreas de hidrogênio e célula a combustível em empresas líderes mundiais dessas tecnologias. Hoje, é diretora de Relações Institucionais da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), mentora da Mobilidade a Hidrogênio da SAE Brasil e curadora do núcleo temático “Transformação Energética – Hidrogênio” da BW Expo Summit Digital. Recentemente, foi nomeada como uma das “Remarkable Women in the field of transport” pelo Ministério Federal Alemão para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (BMZ) e pela Sociedade Alemã para Cooperação Internacional (GIZ), no âmbito da TUMI (Transformative Urban Mobility Initiative).