Racismo Ambiental e a cobertura sobre os conflitos de terra

Nesta aula, a professora Tania Pacheco apresenta o conceito de racismo ambiental e fala sobre como esse fenômeno social se dá no Brasil, considerando seus múltiplos cenários, desde a Floresta Amazônica até as grandes cidades. Tania reflete sobre as raízes da realidade, que atinge diretamente as populações vulneráveis.

Destaques da aula:
  • O racismo ambiental é um termo utilizado para se referir ao processo de discriminação que populações vulnerabilizadas, ou compostas de minorias étnicas, sofrem por meio da degradação ambiental. 
  • No Brasil, são vítimas do racismo ambiental populações indígenas, quilombolas, comunidades ribeirinhas e os mais pobres, em geral.
  •  O racismo ambiental no Brasil se constrói de forma histórica e, para entendê-lo, é preciso observar a história desde o período da colonização.

O racismo ambiental é um termo utilizado para se referir ao processo de discriminação que populações vulnerabilizadas ou compostas de minorias étnicas sofrem por meio da degradação ambiental. Trata-se de uma expressão cunhada na década de 1980, nos Estados Unidos, quando um estudo apontou que era nas localidades onde a maioria da população era negra e pobre que ficavam atividades perigosas à saúde, como lixões e fábricas poluentes.

No Brasil, o termo ganha novas conotações, abrangendo as populações vulnerabilizadas como um todo, como indígenas, quilombolas, comunidades ribeirinhas e, nas cidades, os mais pobres, em geral. São, principalmente, os descendentes de povos historicamente escravizados e ameaçados desde a colonização do país que seguem lutando pela sobrevivência e sendo diretamente impactados pelos conflitos ambientais.

Vemos, cotidianamente, muitos exemplos disso. Um deles, que chamou a atenção do mundo em 2022, lançou muita luz ao tema. Trata-se dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips, mortos por defenderem povos indígenas contra ações criminosas na Amazônia. Ambos morreram por estarem lutando pelos direitos dos povos indígenas de terem seus espaços, sua vida e sua cultura respeitados.

O racismo ambiental no Brasil se constrói de forma histórica. Desde que aportaram por aqui, portugueses procuravam por riquezas para extrair para levar para Portugal. As populações indígenas que já viviam nestas terras foram também encaradas como seres que estavam a serviço dos colonizadores. Eles visavam escravizar os homens e explorar sexualmente as mulheres. Os povos originários foram subjugados, usados e descartados quando se tornaram desnecessários, e esse pensamento segue enraizado na sociedade. O mesmo vale para todas as comunidades tradicionais, como os quilombolas, descendentes de negros traficados de seus países e escravizados por séculos.

Os descendentes de todos esses povos seguem expostos a conflitos pela manutenção de seus direitos. Segundo o projeto Mapa de Conflitos – Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil, dentre 616 conflitos mapeados pela iniciativa em todo o país, 184 envolvem povos indígenas; 134, quilombolas; 198, camponeses; 102, pescadores artesanais; 73, ribeirinhos; e 68, comunidades urbanas.

Frequentemente, essas pessoas são expulsas de seus lugares e mandadas para as periferias das cidades, onde estão expostas à falta de infraestrutura e aos mais graves impactos das mudanças climáticas, vivendo em áreas de risco, por exemplo. Além disso, estão sujeitas a serem novamente expulsas quando há valorização de regiões em decorrência da especulação imobiliária.

Saiba mais:

Projeto Mapa de Conflitos
http://mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/
Cursos ClimaInfo
Apostila “Entenda a Justiça Climática”
Aula Narrativas na cobertura do clima, por Raquel Longhi
Aula jornalismo periférico na cobertura climática, por Pedro Borges
Webinar ClimaInfo
Racismo Ambiental
Notas ClimaInfo
Racismo ambiental à brasileira
Clima, gênero e interseccionalidade
Brasil não reconhece conceito de racismo ambiental
Clima Sem Fake
Racismo Ambiental, com Rita Maria Passos
Amazônia negra, com Maria Malcher
Energias renováveis e gênero, com Natália Chaves
O papel das mulheres no setor de energia, com Izana Ribeiro
Economia, gênero e mudanças climáticas, com Margarita Olivera
Blog Combate ao Racismo Ambiental
https://racismoambiental.net.br
Racismo Ambiental e expropriação do território e negação da cidadania
Observatório do Clima
Grupo de Trabalho sobre Gênero e Clima
Por que gênero e clima?
Livro
O Espetáculo das raças, de Lilia Moritz Schwarcz, Companhia das Letras

Sobre a professora:

Tania Pacheco é jornalista e coordenadora-executiva do Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil (Fiocruz). Trabalha na área de Direitos Humanos, Ciências Ambientais e Saúde, com ênfase em Racismo Ambiental, atuando com foco aos povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais, comunidades urbanas, justiça social e ambiental, cultura e política. É graduada em Jornalismo, mestre em Educação e doutora em História.