Cerrado e as mudanças climáticas

Esta apostila “O Cerrado e os Impactos das Mudanças Climáticas”, escrita pelas biólogas Leticia Gomes e Mercedes Bustamante, traz informações sobre a importância da preservação deste que é o segundo maior bioma brasileiro, considerado um dos mais biodiversos do planeta. O Cerrado é conhecido como “floresta invertida”, por sua enorme capacidade como fonte de água do país, mas enfrenta ameaças tanto pelas mudanças do clima como pelo uso e ocupação do solo.

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Destaques:
  • O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, considerado um dos mais biodiversos do planeta em termos de plantas e animais endêmicos.
  • Cerca de 5% de todas as espécies da Terra estão no Cerrado brasileiro, e 40% das espécies da flora são únicas.
  • É uma das mais importantes fontes de água do Brasil.
  • É capaz de estocar milhões de toneladas de dióxido de carbono.
  • Cerca de 46% das áreas nativas do Cerrado já foram convertidas em áreas rurais devido à expansão agrícola, e o restante está sob constante ameaça.
  • É possível salvar o Cerrado por meio de ações de mitigação e adaptação. 
  • A restauração de ecossistemas naturais é uma das principais alternativas para sequestrar carbono e mitigar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, além de ter grande potencial de geração de empregos e renda.

O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil, também considerado um dos mais biodiversos do planeta, em termos de plantas e animais. Cerca de 5% de todas as espécies da Terra estão no Cerrado brasileiro, e 40% das espécies da flora são únicas. Ainda é uma das mais importantes fontes de água Brasil: 1) é o berço de diversas nascentes de rios que compõem importantes bacias hidrográficas (como a Amazônica, a do São Francisco, a , Araguaia-Tocantins e a Paraná-Paraguai) e 2) contribui com cerca de 43% de toda a água doce do Brasil.

Seu solo e suas plantas com raízes profundas permitem que o bioma seja capaz de estocar grande quantidade de água das chuvas, o suficiente para distribuí-la para milhões de nascentes, como também reter milhões de toneladas de dióxido de carbono – drenando CO2 da atmosfera e mantendo significativos estoques de carbono na vegetação e no solo.

Apesar das funções vitais desempenhadas pelo bioma, cerca de 46% das áreas nativas do Cerrado já foram convertidas em áreas rurais devido à expansão agrícola, e o restante está sob constante ameaça. A substituição de vegetação natural por áreas agrícolas tem sido uma das principais atividades antrópicas responsáveis pelo aumento da quantidade de carbono na atmosfera.

Segundo o MapBiomas, até 2019, a vegetação nativa do Cerrado vem dando lugar, principalmente, a pastagens e plantações de soja. Essas atividades ocupam, hoje, cerca de 41% da área original do Cerrado (34% pasto, e 7% soja).

Apesar do Cerrado ser um bioma biodiverso, o desmatamento, o calor extremo e os incêndios frequentes trazem graves problemas à biodiversidade e ao funcionamento dos ecossistemas. Estima-se que, até 2050, ocorrerá a extinção de 397 espécies de plantas endêmicas. Mundialmente, cerca de 4% das espécies de vertebrados e 8% das espécies de plantas serão extintas caso a temperatura do planeta aumente 1,5ºC. Se a temperatura média global aumentar em mais 0,5ºC, chegando a 2ºC, essa porcentagem se torna ainda maior, entre 8% e 16%.

Apesar desse cenário alarmante, ainda é possível salvar o Cerrado por meio de ações de mitigação e adaptação. A restauração de ecossistemas naturais é uma das principais alternativas para sequestrar carbono e mitigar as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, além de ter potencial de geração de empregos e renda.

Como uma ação de adaptação, para reduzir a vulnerabilidade e/ou a exposição dos ecossistemas às queimadas frequentes, uma solução é a realização de monitoramentos em tempo real. Isso é possível a partir implantação de um sistema de alerta e controle de incêndios, tais como os desenvolvidos pelo Sistemas de Prevenção de Incêndios Florestais e Monitoramento da Cobertura Vegetal no Cerrado Brasileiro (Fip Cerrado), que geram mapas de probabilidade de fogo para melhor orientar as ações preventivas.

Proteger o equilíbrio dos processos ecossistêmicos do Cerrado é fundamental na luta contra a crise climática e a perda da biodiversidade, e cabe a nós resistir a esse modelo de destruição para preservar a saúde e o bem-estar humanos. Porém, ainda falta uma política consistente de financiamento de políticas de monitoramento de áreas desmatadas e de queimadas no Cerrado.

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Sobre as autoras:

Leticia Gomes é graduada em Ciências Biológicas, com mestrado em Ecologia e Conservação pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), e doutorado em Ecologia pela Universidade de Brasilia (UnB). É consultora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), no âmbito do Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa (SEEG), e pesquisadora colaboradora do Projeto Fogo da Universidade de Brasilia (UnB). Tem experiência na área de ecologia de ecossistemas, com ênfase em modelagem de processos ambientais relacionados às queimadas em ecossistemas savânicos e florestais.

Mercedes Bustamante é bióloga pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com mestrado na Universidade de Viçosa, na área de Ciências Agrárias, e doutorado em Geobotânica na Universitaet Trier (Alemanha). É professora da Universidade de Brasília (UnB), membro da Academia Brasileira de Ciências e, atualmente, uma das principais referências no bioma Cerrado. Atua na área de ecologia de ecossistemas, em particular em temas relacionados a mudanças no uso da terra, biogeoquímica e mudanças ambientais globais. Foi co-coordenadora do capítulo “Agriculture, Forestry and Other Land Uses” do Grupo de Trabalho III: Mitigação do 5o Relatório do IPCC. Também integrou o Comitê Científico responsável pela revisão do relatório sobre emissões de óxido nitroso (N2O) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Atuou como representante da América Latina na Iniciativa Internacional do Nitrogênio (2010-2013) e foi membro do Comitê Científico do Programa Internacional Geosfera – Biosfera (IGBP), de 2007 a 2012, e do Programa Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). Em gestão de política científica e educacional, contribuiu como coordenadora geral de Gestão de Ecossistemas, como diretora de Políticas e Programas Temáticos no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (2010-2013), como diretora de Programas e Bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e como membro do Comitê Assessor da área de Ecologia e Limnologia do CNPq.