Mudanças climáticas e o futuro do planeta

Nesta aula, o físico e pesquisador do IPCC Paulo Artaxo traz um panorama sobre a emergência climática e analisa os dados divulgados no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), apontando as consequências das mudanças do clima. Ele estabelece correlações entre a pandemia, a crise da biodiversidade e a crise climática – todas evidenciam o uso excessivo dos recursos naturais, bem como a falta de governança global e provocam impactos socioeconômicos. Artaxo ressalta, ainda, o conhecimento científico como chave para sairmos dessas crises.

Destaques da aula:
    • Existem correlações e sobreposições entre as crises envolvendo pandemias, perda de biodiversidade e efeitos da emergência climática.
    • Com a agricultura intensiva, podemos estar comprometendo a capacidade de as futuras gerações produzirem alimentos. Perdas nessa direção já atingem Europa, Índia e região Sul do Brasil.
    • As evidências científicas indicam que as mudanças climáticas já estão em curso, como o aumento global de temperatura, a redução na quantidade de gelo, o aumento no nível do mar e a acidificação dos oceanos, entre outras.
    • Os eventos climáticos extremos estão aumentando rapidamente em frequência e intensidade no planeta, gerando impactos na saúde humana, na agricultura e no equilíbrio dos ecossistemas.
    • Existem os chamados tipping points (pontos de não-retorno) do sistema climático terrestre. A perda da floresta Amazônica é um desses efeitos que pode desestabilizar o clima do planeta. O outro é o derretimento do permafrost no Ártico, que pode levar à elevação das emissões de gás metano, agravando ainda mais a crise climática.

De acordo com o físico e pesquisador do IPCC Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP, as mudanças climáticas estão interligadas a outros fenômenos que temos vivenciado em nossa sociedade, tais como a crise da saúde, com pandemias como a da COVID-19, e a de perda da biodiversidade. Enquanto a crise na saúde pode passar daqui a dois ou três anos, a da mudança climática provocada pela ação humana terá efeitos por muitos séculos, e a da perda de biodiversidade, com a extinção de espécies, será para sempre. A ciência é a chave para aponta o problema e indicar possíveis soluções.

“A função da ciência é colocar quais são os impactos dessas mudanças, tanto os socioeconômicos quanto no sistema terrestre. Uma das mudanças mais importantes é a apropriação humana da fotossíntese em muitas partes do planeta. É importante controlar a fotossíntese para a agricultura e para a mudança na quantidade de carbono orgânico no solo, que tem dois componentes: um inorgânico (alumínio, silício, titânio, ferro) e o outro orgânico, onde vivem as bactérias que fixam nutrientes na raiz das plantas”, diz Artaxo. 

Muitas regiões da Índia, da Europa e do Sul do Brasil já perderam de 30 a 40% da quantidade de carbono orgânico devido à agricultura intensiva, que faz com que o componente orgânico do carbono seja perdido. Podemos estar comprometendo a capacidade das futuras gerações de produzir alimentos de maneira adequada.

A humanidade está passando por um período muito crítico, o chamado Antropoceno (onde os humanos controlam o sistema climático terrestre). Ele é caracterizado pela queima de combustíveis fósseis, provocando emissões de gases de efeito estufa que estão próximas de 40 bilhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) por ano. A queima de combustíveis fósseis é responsável por 83% dessas emissões. 

Nos últimos 20 anos, apesar do Acordo de Paris e de todos os protocolos assinados no âmbito das Nações Unidas, de 1990 a 2019, as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) continuaram a subir. A pandemia fez com que essas emissões reduzissem em torno de 7%, devido à diminuição das atividades de indústrias e dos tráfegos aéreo e terrestre – todos intensivos em emissões de GEE. As projeções do IPCC indicam que, para limitarmos o aumento da temperatura média do planeta em dois graus centígrados, temos de reduzir as emissões globais de GEE em torno de 5% todos os anos, de 2020 até 2050.

Já existem diversas evidências de que as mudanças climáticas estão ocorrendo, tais como o aumento global de temperatura, a redução na quantidade de gelo, o aumento no nível do mar, a acidificação dos oceanos, entre outras. A mais óbvia é a de elevação global da temperatura. Os eventos climáticos extremos estão se intensificando rapidamente no planeta e impactando a saúde humana, a agricultura e a saúde dos ecossistemas. A distribuição espacial desse aumento de temperatura não é homogênea, ou seja, as áreas continentais aumentam mais do que a média global. 

Cientificamente, estamos mudando como o nosso planeta processa a energia. No futuro, o Brasil, por exemplo, pode vir a aquecer de 4,5°C a 5°C, de acordo com a previsão do IPCC. Podemos esperar mudanças muito profundas em todo o planeta com o aumento da  temperatura. Previsões do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (INPE) indicam que o Brasil pode ter um aumento de temperatura entre 5° e 6°C em algumas regiões. Mapas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostram regiões com um déficit muito alto de recursos hídricos, tanto nos últimos vinte anos quanto nos próximos dez anos, o que vai alterar a economia brasileira de uma forma significativa. 

Existem, ainda, os chamados tipping points (pontos de não-retorno) do sistema climático terrestre. A perda da floresta Amazônica é um deles, capaz de desestabilizar o clima do planeta. O outro é o derretimento do permafrost no Ártico, o qual pode levar ao aumento significativo de emissões de gás metano na atmosfera.

Outros impactos das mudanças climáticas são o aumento dos eventos climáticos extremos, como ondas de calor, ondas de frio e muita chuva concentrada em um pequeno espaço de tempo. Isso já está sendo observado desde a década de 1980 e está associado a grande quantidade de energia na atmosfera. O clima mais quente também impacta diretamente na produção de alimentos. “Para solucionar esses problemas, teremos que fazer um uso mais eficiente da energia, implementar economias neutras em emissões de carbono, aumentar as absorções de carbono pelas florestas, por exemplo. E, principalmente, ter mudanças de estilo de vida e comportamentais. O IPCC diz para limitarmos o aquecimento em 1,5°C a 2°C. A partir de 2020, temos que reduzir as emissões de 3% a 7% ao ano, e, até 2050, absorver CO2 da atmosfera e reduzir 70% de emissões de metano.

Saiba mais:

Cursos ClimaInfo
Apostila “Entenda as mudanças Climáticas”
Aula Mudanças climáticas, Amazônia e sustentabilidade, por Paulo Artaxo
Aula Impactos econômicos e sociais das mudanças climáticas no Brasil, por Artaxo
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)

Relatório “Climate change 2021”
Clima Sem Fake
Frear a crise climática é urgente!, com Paulo Artaxo

Sobre o professor:

Paulo Artaxo é professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP e é membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Trabalha com física aplicada a problemas ambientais, atuando principalmente nas questões de mudanças climáticas globais, meio ambiente na Amazônia, física de aerossóis atmosféricos, poluição do ar urbana e outros temas. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS), da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP), da coordenação do Programa FAPESP de Mudanças Globais e da Rede CLIMA, do Ministério de Ciência e Tecnologia. Tem mais de 450 publicações e é um dos cientistas brasileiros mais citados mundialmente.