Colapso do Fundo Amazônia ameaça ainda mais combate ao desmatamento

Fundo Amazônia
Pedro Ladeira/Folhapress

Paralisado desde 2019, quando um ex-ministro do meio ambiente do atual governo forçou um conflito com os governos doadores da Alemanha e da Noruega, o Fundo Amazônia agoniza enquanto projetos que dele dependem enfrentam o desafio da sobrevivência. O cenário é bastante difícil: além da possível descontinuidade deste apoio financeiro, o estrangulamento orçamentário na área ambiental e a incerteza da economia internacional deixam o financiamento a projetos brasileiros de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável em um limbo preocupante.

Como abordado pela Folha, até mesmo iniciativas do governo federal, como a fiscalização e o combate ao desmatamento na Amazônia feito pelo IBAMA, que contavam com recursos do Fundo, estão fazendo as contas para se manter sem o dinheiro.

A situação é ainda mais complicada para projetos socioambientais da sociedade civil, como o Valorizando Cadeias Socioprodutivas Amazônicas, do Instituto Centro de Vida (ICV). “A interrupção do Fundo não poderia ter vindo em momento pior, justamente pela demanda local e pelas demandas que as nossas comunidades têm de conseguir bons arranjos produtivos nesses momentos difíceis”, afirmou Renato Farias, do ICV.

Alternativas potenciais para complementar ou mesmo substituir os recursos do Fundo Amazônia também estão enfrentando problemas para se viabilizar. É o caso de uma proposta apresentada por Joe Biden, durante a COP26 de Glasgow, no ano passado, na qual o governo dos EUA prometeu investir US$ 9 bilhões no combate ao desmatamento ao redor do mundo. A questão é que, como explicado por Rafael Balago, na Folha, as dificuldades políticas do governo Biden nos EUA estão atrasando a tramitação da proposta dentro do Congresso norteameriano, responsável pela liberação dos recursos.

E a região da Amazônia Legal está na rabeira da fila quando o assunto é financiamento do BNDES, mostrou Daniela Chiaretti no Valor. Enquanto Estados mais ricos, principalmente nos Sudeste e Sul, concentraram quase 70% dos desembolsos do banco entre 2009 e 2019, os estados amazônicos figuram entre os que menos receberam recursos. Por exemplo, Amapá, Acre e Rondônia receberam menos de 1% do total de dinheiro desembolsado pelo BNDES no período. Os dados são de um estudo do projeto Amazônia 2030, encabeçado pela economista Amanda Schutze (PUC-Rio).

Em tempo: André Borges assinalou no Estadão que menos de 20% dos recursos previstos pelo governo federal para prevenção e combate às queimadas na Amazônia em 2022 foram aplicados até agora. Dos 175 milhões de reais reservados, somente R$ 32 milhões foram efetivamente utilizados. Isso acontece em um momento crítico, com os focos de incêndio chegando a patamares preocupantes na floresta. O Globo trouxe dados de uma análise do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA/UFRJ) mostrando que o total de floresta queimada nos seis primeiros meses de 2022 já superou o registrado no mesmo período do ano passado.

As queimadas registradas na região até agora  estão 30% acima da média histórica, o que preocupa para os próximos meses, já que a temporada seca deve seguir até o final do ano, facilitando a disseminação do fogo na vegetação ressecada.

 

ClimaInfo, 18 de julho de 2022.

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