Crise dos combustíveis: conseguirá o diesel russo chegar ao Brasil?

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Engin Akyurt/Pixabay

Uma das jogadas recentes do governo federal para diminuir o preço do diesel no mercado nacional é a tentativa de comprar combustível mais barato da Rússia. O raciocínio é simples: os preços internacionais estão mais altos e a indústria fóssil russa, atingida pelas sanções internacionais, está oferecendo combustível com preços mais baixos e condições mais camaradas de pagamento. O problema é que, como em outros raciocínios deste governo, a simplicidade esconde o simplismo.

Noves fora a questão política – ou seja, o risco de melindrar ainda mais sua imagem com parceiros europeus e norte-americanos – o Brasil enfrentaria desafios logísticos significativos para conseguir trazer diesel russo. Nem mesmo um preço mais baixo eventualmente cobrado por Moscou compensaria o custo extra que os importadores brasileiros teriam para comprar o combustível.

Para piorar, as sanções internacionais tornaram a operação logística ainda mais difícil, já que muitas transportadoras estão se recusando a embarcar petróleo russo por medo de serem processadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos. O Valor destacou a cautela e o ceticismo de representantes do setor com essa possibilidade.

Ao mesmo tempo, a queda recente dos preços internacionais do petróleo trouxe um componente novo no cálculo estratégico dos governos para garantir os estoques de combustível ao redor do mundo. O barril Brent, por exemplo, chegou a registrar queda de 1,43% em sua cotação nesta 4a feira (20/7), com a commodity chegando a US$ 105,82 por barril. Por ora, não sabemos se a queda é momentânea ou se é o começo de uma nova trajetória de desvalorização. De toda forma, o panorama geral ainda indica uma valorização significativa do petróleo em 2022, potencializada pela crise geopolítica no leste europeu.

Por enquanto, Brasília segue celebrando a redução do preço médio da gasolina anunciada nesta semana pela Petrobras. Com a queda do preço internacional do petróleo e as reduções e isenções fiscais aplicadas nas últimas semanas, a gasolina acumula uma queda de 8,4% de seu preço em 2022. Entretanto, considerando o agregado do atual governo, o valor da gasolina na bomba segue bem mais caro do que o que tínhamos em dezembro de 2018. Segundo dados levantados pelo UOL, a gasolina acumula alta de quase 40% na gestão do atual presidente da República.

Em tempo 1: O Valor informou que o Conselho de Presidentes dos Tribunais de Justiça do Brasil (CONSEPRE) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma carta em defesa dos governadores na disputa entre Estados e União pela redução forçada do ICMS cobrado sobre os combustíveis. A manifestação surpreendeu, já que é incomum que os chefes dos TJs estaduais se coloquem publicamente em discussões tributárias dessa natureza. A principal razão, de acordo com o texto, é o impacto que a redução da arrecadação do ICMS pode causar no funcionamento da Justiça estadual, prejudicando ainda mais o andamento de processos nessa esfera.

Em tempo 2: Outro destaque do Valor é para a desvalorização recente dos créditos de carbono do programa RenovaBio, motivada por uma decisão de seu comitê gestor para recomendar o adiamento por um ano da comprovação das metas 2022 de descarbonização das distribuidoras. Desde 5a feira passada (14/7), quando o colegiado fez a sinalização, o preço dos papéis caiu mais de 50%, de quase R$ 200 para menos de R$ 90.

 

ClimaInfo, 21 de julho de 2022.

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