A estratégia publicitária do Big Oil para disseminar o negacionismo climático

Big Oil negacionismo
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O negacionismo climático não é fruto de ceticismo puro e simples – mas resultado de um projeto de longo prazo, planejado e executado ao longo das últimas décadas e financiado em bilhões de dólares por empresas interessadas em atrasar e inviabilizar os esforços para redução de emissões de gases de efeito estufa.

O projeto envolveu não apenas dinheiro graúdo de gigantes do Big Oil, mas também diversos dos mais competentes profissionais de relações públicas do planeta, que se responsabilizaram em montar uma estratégia publicitária para disseminar a desconfiança e atacar a ciência climática em prol dos interesses de seus financiadores.

Na BBC, Jane McMullen reconstituiu uma dessas campanhas. Há 30 anos, o marqueteiro Bruce Harrison apresentou sua proposta à Global Climate Coalition (GCC) – grupo que, a despeito do nome, reunia representantes das indústrias mais poluentes do mundo, como as do petróleo, carvão e automóveis – para obter um contrato publicitário que valia cerca de US$ 500 mil anuais na época (pouco mais de US$ 1,02 milhão hoje).

O plano era audacioso: recrutando jornalistas e pesquisadores, alguns inclusive com passagem em organizações ambientalistas, Harrison bolou uma estratégia agressiva de inserção na imprensa com argumentos que colocavam em xeque os indícios e as conclusões das principais pesquisas sobre clima. O objetivo era criar ceticismo entre os cidadãos e enfraquecer propostas de regulamentação governamental que prejudicassem o consumo e a queima de combustíveis fósseis.

O momento era chave para que esse ceticismo ganhasse forma: na época, os países estavam negociando o que viria a ser o Protocolo de Quioto, primeiro acordo multilateral com metas específicas de redução das emissões de gases de efeito estufa. O alvo da campanha era o público norte-americano, visto pelo Big Oil como central para barrar as pretensões do governo de Bill Clinton (1993-2001) de colocar os EUA dentro desse regime. Ao final, Harrison e seus clientes foram bem-sucedidos: eles conseguiram convencer quase metade do público e a maioria dos senadores de que a ratificação do Protocolo prejudicaria a economia dos EUA, inviabilizando sua aprovação pelo Congresso.

“Acho que é o equivalente moral de um crime de guerra”, comentou o ex-vice-presidente Al Gore, principal defensor do Protocolo de Quioto nos EUA à época, sobre a campanha negacionista. “Em muitos aspectos, acredito seja o crime mais grave do pós-Segunda Guerra Mundial em qualquer lugar do mundo. As consequências do que eles fizeram são quase inimagináveis”.

Em tempo: Um levantamento divulgado pelo Guardian mostrou o quanto a indústria dos combustíveis fósseis faturou nos últimos 50 anos vendendo seu produto e, na prática, condenando a humanidade a viver sob um clima instável. O Big Oil gerou cerca de US$ 2,8 bilhões DIÁRIOS de lucro limpo desde 1972, totalizando a soma estratosférica de US$ 52 trilhões, calculados a partir de dados do Banco Mundial. Com essa dinheirama, a indústria teve recursos infindáveis para fazer lobby contra a ação climática desde o nível mais básico do poder político até as instâncias mais altas e poderosas.

 

ClimaInfo, 25 de julho de 2022.

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