MPF denuncia três suspeitos pelos assassinatos de Bruno e Dom

Bruno Pereira Dom Phillips
Reprodução arquivo pessoal

Quase dois meses após o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari, a Justiça Federal transformou três suspeitos detidos pelo crime em réus. Na 6ª feira (22/7), o juiz federal Fabiano Verli, da Vara Federal Cível e Criminal de Tabatinga (AM), aceitou a denúncia do Ministério Público Federal contra Amarildo Oliveira, o “Pelado”; o irmão dele, Oseney Oliveira, o “Dos Santos”; e Jeferson Lima, o “Pelado da Dinha”. Os três réus são acusados de duplo homicídio qualificado e ocultação de cadáveres.

Em sua decisão, o magistrado ressaltou a situação de abandono do Estado na Amazônia, refletida na atuação explícita do crime organizado na área onde as mortes aconteceram e em outros episódios de violência que vitimaram indígenas e defensores do meio ambiente e dos Direitos Humanos. “Quantos anônimos já não morreram nesse fluxo incessante de negação a respeito das peculiaridades dessa terra especial que é a Amazônia?”, questionou o juiz. “Sim, aqui temos um conflito. Conflitos, dentre muitos, e que andam de rédeas soltas. Pensamentos extremistas e simplistas, de qualquer lado que venham, não ajudam em nada”.

Na denúncia apresentada à Justiça, o MPF reconstituiu os acontecimentos de 5 de junho passado, desde a passagem de Bruno e Dom por uma comunidade de pescadores no rio Itaquaí até a abordagem dos criminosos, as execuções e os esforços dos assassinos em esconder os corpos e os indícios do crime. De acordo com o MPF, a decisão de matar Bruno teria acontecido em virtude de uma foto feita por Dom de Amarildo e sua embarcação. Sugere-se que o pescador teria ficado contrariado com o registro e revidou atacando a dupla depois de vê-la saindo de barco pelo rio. “Lá vem o cara. Bora matar ele”, teria dito Amarildo a Jeferson antes do ataque. O Estadão disponibilizou a denúncia do MPF na íntegra.

A Amazônia Real se debruçou no texto da denúncia e levantou dez dúvidas que ainda pairam sobre o caso. O MPF se baseou fundamentalmente nas confissões de Amarildo e Jeferson, que reconheceram envolvimento no crime. Oseney, por outro lado, segue negando qualquer participação nas mortes de Bruno e Dom. Uma das perguntas sem resposta é se o crime foi premeditado, com a participação de familiares de Amarildo e Oseney, que teriam montado uma “emboscada” contra a dupla.

Agência Brasil, Estadão, Folha, Jornal Nacional (TV Globo), Valor e VEJA, entre outros, repercutiram a notícia. A decisão da Justiça também foi destaque no exterior, com manchetes nos Associated Press, BBC, CNN e Guardian.

Em tempo: O coordenador-geral de índios isolados e de recente contato da FUNAI, Geovanio Oitaiã Pantoja, teria atuado contra as responsabilidades de seu posto para rejeitar indícios da presença de grupos indígenas isolados na Terra Ituna Itatá, no Pará. De acordo com o Repórter Brasil, um despacho assinado por Geovanio resultou na decisão da FUNAI de suspender uma portaria que restringia a entrada de forasteiros no território; o MPF contestou a decisão e a Justiça acabou revertendo-a e prorrogando a proteção legal da área. Lembrando que o último posto ocupado por Bruno na FUNAI foi exatamente esta coordenação, que posteriormente foi entregue a um missionário evangélico.

 

ClimaInfo, 25 de julho de 2022.

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