Jornalistas falam sobre trabalho na Amazônia depois das mortes de Bruno e Dom

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Edmar Barros/AP Photo/Image Plus

A morte do jornalista britânico Dom Phillips, assassinado no Vale do Javari junto com o indigenista Bruno Pereira, deixou evidente os perigos que a imprensa livre e independente enfrenta na cobertura sobre a Amazônia.
Historicamente, a situação sempre foi delicada, mas as coisas se tornaram mais difíceis nos últimos anos por conta da leniência do atual governo federal no combate às ilegalidades, o que empoderou os grupos criminosos que exploram a floresta e violentam seus habitantes.

“Quando eu vi o corpo dele [Dom] chegando no saco plástico, a sensação que eu tive na hora é que o pesadelo virou realidade. Foi brutal”, disse Daniel Camargos, da Repórter Brasil, ao Committee to Protect Journalists (CPJ). 

“Hoje a Amazônia é uma terra sem lei onde impera aqueles que querem destruir a floresta. O Estado tem que agir para proteger a floresta, o que também ajudaria a garantir segurança de quem defende a floresta e de quem faz jornalismo lá”.

Para quem cobre a Amazônia in loco, com base na própria floresta, os riscos são ainda maiores. “Embora esses problemas tenham raízes históricas, nos últimos anos, com a ascensão do [atual] governo, esse contexto de grandes ameaças, violações, brutalidades na Amazônia se intensificou. Há uma autorização para exploração, crimes ambientais, invasões de terras indígenas”, afirmou Elaíze Farias, da Amazônia Real. “Não porque ele [presidente da República] manda fazer, mas porque a retórica dele se espalha e as pessoas sabem que não vão ser punidas pelos crimes ambientais”.

Já o Metrópoles divulgou trechos do pedido de licença apresentado por Bruno à FUNAI no final de 2019, logo após sua exoneração da coordenadoria-geral de índios isolados e de recente contato. “Mais recentemente, o clima de tensão imposto aos servidores pelo assassinato do colaborador da FPEVJ [Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari], Maxciel Pereira, em setembro de 2019, e os ataques consecutivos com arma de fogo contra a estrutura da BAPE [Base de Proteção Etnoambiental] Ituí tornaram ainda mais tensas e ansiosas as perspectivas de trabalho e vida do servidor e sua família”, escreveu Bruno. No texto, ele lembrou também dos dois filhos pequenos e da vontade de ser mais presente na criação deles. Infelizmente, seu assassinato tirou dessas crianças a possibilidade de crescer com o pai.

 

ClimaInfo, 28 de julho de 2022.

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