Leilão de petróleo na República Democrática do Congo expõe desafios para ação climática na África

Congo exploração petróleo
Pius Utomi Ekpei/AFP/Getty Images

Mesmo com protestos de ambientalistas e ativistas climáticos, o governo da República Democrática do Congo realizou na semana passada o leilão de 30 blocos de petróleo e gás em áreas de floresta na bacia do Congo. A região abriga a maior área de turfa tropical do mundo, sendo que alguns blocos adentram inclusive o Parque Nacional de Virunga, primeira área de conservação na África e Patrimônio Mundial da UNESCO.

Os impactos da exploração de petróleo nessa região não são pequenos. As turfas servem como sumidouro de carbono, com imensas reservas em seu subsolo que podem ser liberadas em caso de intervenção. A região também é lar de mais de mil espécies de aves e concentra a maior proporção de espécies de primatas de todo o mundo, especialmente os de grande porte, como gorilas e chimpanzés. “Estes são os últimos refúgios da biodiversidade natural”, afirmou Ken Mwathe, da BirdLife Internacional, à Associated Press. “Não devemos sacrificar esses valiosos ativos naturais”.

No entanto, nada disso comoveu o governo do país. O presidente Felix Tshisekedi presidiu a sessão de licitação, realizada na capital do país, Kinshasa, na última 5ª feira (28/7). De acordo com a Reuters, a petroleira francesa Total participou do processo, embora um porta-voz da empresa tenha dito que ela não participaria da licitação. A expectativa das autoridades congolesas é de que a bacia do Congo possa produzir cerca de 200 mil barris diários de petróleo, com reservas na casa dos 22 bilhões de barris. O Guardian também destacou a notícia e a preocupação de ambientalistas com os impactos da produção de petróleo no Congo.

O leilão de petróleo em Kinshasa é apenas um indício da estratégia que os países africanos deverão empregar durante as negociações na próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP27), que acontecerá em novembro no Egito. De acordo com Fiona Harvey no Guardian, os governos querem aproveitar o encontro para pressionar por novos investimentos maciços em combustíveis fósseis na África. Eles argumentam que as fontes fósseis de energia são o caminho mais fácil para que os países do continente se desenvolvam no curto prazo e que a transição energética para fontes renováveis não pode ser empurrada a eles sem a oferta de uma alternativa energética barata para seus consumidores.

Sobre esse argumento, é interessante ler a análise de Angus Chapman na African Business. Ele ressalta como o mercado fóssil africano ainda é controlado majoritariamente por empresas estrangeiras, que se beneficiarão diretamente da abertura do continente para mais exploração de petróleo e gás. Apenas ⅓ dessa produção está nas mãos de empresas efetivamente africanas. Outra questão é que uma expansão da produção de combustíveis fósseis sozinha não garantirá maior acesso dos africanos à energia – isso dependerá de infraestrutura e de melhor distribuição de renda, pontos problemáticos na maior parte do continente. Ou seja, quem ganhará com a produção fóssil africana serão os mesmos de sempre: os gigantes do Big Oil, que deixarão migalhas aos países africanos.

 

ClimaInfo, 3 de agosto de 2022.

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