Tensões entre China e EUA complicam tabuleiro geopolítico e negociações sobre clima

EUA China cooperação climática
AFP/Getty Images

As desavenças políticas entre Estados Unidos e China chegaram ao pior momento na última semana, depois da presidente da Câmara norte-americana, Nancy Pelosi, desafiar Pequim ao visitar Taiwan. Em resposta, o governo chinês anunciou a suspensão da cooperação sino-americana em matéria de mudança climática, o que cria um obstáculo inesperado e bastante desafiador a menos de três meses para a Conferência do Clima de Sharm el-Sheikh (COP27).

A visita de Pelosi a Taiwan contrariou a Casa Branca de Biden, que não queria criar mais um foco de tensão externa em um momento repleto deles em outras partes do mundo, especialmente na Europa.

O relacionamento entre os dois países vem atravessando um período instável nos últimos anos, potencializado pelos conflitos comerciais da era Trump e pelos efeitos da pandemia sobre as cadeias produtivas globais.

Ainda assim, a questão climática se mantinha como uma das poucas nas quais ambos governos encontravam algum espaço para cooperação e parceria, com destaque para a parceria anunciada durante a Conferência de Glasgow (COP26) para redução das emissões de metano.

O impacto efetivo dessa movimentação chinesa ainda é incerto. Por um lado, o governo norte-americano e alguns analistas internacionais entendem que a reação de Pequim pode ser pontual e restrita, desde que os EUA não pisem novamente no calo chinês. Por outro lado, isso depende fundamentalmente do que pode acontecer em Taiwan: se o governo chinês finalmente cumprir a antiga ameaça de retomar o controle político da ilha, os EUA podem ser forçados a se envolver na defesa do atual governo.

“Nenhum país deve impedir o progresso em questões transnacionais existenciais por causa de diferenças bilaterais”, reagiu John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima, citado pela Reuters. “Suspender a cooperação [climática] não pune os EUA – pune o mundo, particularmente o mundo em desenvolvimento”.

A Associated Press destacou as opiniões de especialistas em política climática sobre os efeitos da suspensão da cooperação chinesa com os EUA. Em termos gerais, a impressão é de que o anúncio não afeta o ambiente doméstico de ação climática dos dois países: tanto Washington quanto Pequim vêm sinalizando mais interesse em acelerar a transição para o carbono zero, ainda que aos trancos e barrancos. É possível que o “climão”, com o perdão do trocadilho, entre chineses e norte-americanos transforme a ação climática em um impulso para competição estratégica entre as duas maiores economias do planeta.

Bloomberg, Financial Times, Gizmodo, Guardian, POLITICO e South China Morning Post, entre outros, também destacaram o rompimento da cooperação climática entre China e Estados Unidos.

 

ClimaInfo, 8 de agosto de 2022.

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