Indígenas que apoiaram as investigações da Polícia Federal e da Polícia Civil do Amazonas sobre as mortes de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari estão pedindo ajuda das autoridades por temor de eventuais retaliações de parentes e associados dos suspeitos do crime.
De acordo com a Amazônia Real, essas testemunhas querem ingressar no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), um serviço do ministério da mulher, família e direitos humanos para ajudar indivíduos ou grupos em situação de vulnerabilidade relacionada à perseguição por seu trabalho nesse tema.
“Eu não sei mais quem está envolvido no assassinato do Bruno e do Dom que possa estar solto por aí”, disse um indígena que acompanhou a dupla até a partida deles na comunidade São Rafael na manhã de 5 de junho, pouco antes dos assassinatos. “A gente não tem segurança para nada, eu vivo com medo agora… por mim e pela minha família”.
Os motivos para o temor são justificados. Depois da descoberta e da recuperação dos corpos de Bruno e Dom, a presença das forças de segurança pública no Vale do Javari diminuiu, o que tem deixado indígenas e ribeirinhos com medo de represálias da quadrilha que explora a pesca ilegal na Terra Indígena. Até mesmo agentes da FUNAI relataram ameaças de homens armados depois das mortes de Bruno e Dom. No mês passado, o então coordenador regional interino da FUNAI para a região pediu exoneração por conta da falta de segurança.
Os assassinatos de Bruno e Dom intensificaram na imprensa internacional um mal-estar generalizado na cobertura jornalística sobre o Brasil. Na Folha, Daniel Buarque e Fabiana Mariutti contextualizaram o crime dentro de um cenário de recrudescimento da polarização política, associada com episódios de violência política associada às eleições deste ano, o que tem sido visto com preocupação por correspondentes internacionais no país.
ClimaInfo, 12 de agosto de 2022.
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