O desafio ambiental do próximo governo federal – que não seja a continuidade do atual

Suely Araújo
Guto Martins / Divulgação

As promessas de Bolsonaro para a proteção do meio ambiente tropeçam em um obstáculo intransponível para qualquer observador sério – os resultados devastadores de seu governo até aqui. A esperança (ou o que resta dela) nesta seara está na possibilidade de um novo governo, comandado por outro grupo político a partir de 1º de janeiro de 2023.

“Acredito que nós temos condições de reverter esse quadro, se o presidente Bolsonaro não for reeleito”, destacou Suely Araújo, especialista de políticas públicas do Observatório do Clima e ex-presidente do IBAMA, ao podcast Ilustríssima Conversa: “Esse é o primeiro pressuposto. Em caso de reeleição, o que nós teremos em termos de política ambiental é o caos, a finalização desse projeto de destruição que já está em estágio avançado. (…) Com a troca de presidente, nós temos que conseguir compromissos estruturantes de quem vai entrar, em termos de reconstrução da política ambiental e avanço a mais do que ela era, porque sempre tivemos dificuldade de implementação mesmo com a legislação ambiental mais rigorosa”.

A reversão dos danos institucionais impostos pelo atual governo deve ser a prioridade para quem assumir a Presidência da República no próximo ano, defendeu André Trigueiro na CBN. “Esse revogaço deveria ser feito com a presença de criminalistas”, destacou o jornalista, que também apontou para a necessidade de descongelar o Fundo Amazônia e retomar o trabalho dos órgãos de fiscalização ambiental. “Quem comete crime ambiental sabe que não há investigação e não há multa”.

Além de reverter o descalabro, o próximo governo precisa avançar em um projeto de desenvolvimento que concilie a proteção ambiental com a geração de emprego e renda, especialmente nas áreas mais pobres e vulneráveis do país. No Valor, Daniela Chiaretti destacou pontos da proposta apresentada na semana passada pelo Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), a qual elenca diretrizes para a evolução de uma economia de baixo carbono no Brasil. Além de mais apoio a atividades e setores econômicos com potencial sustentável, o documento também defende uma reforma tributária verde e investimentos em tecnologia e energia renovável.

Em tempo 1: Um levantamento feito pel’O Globo cruzou dados do IBAMA relativos à aplicação de multas por infrações ambientais e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acerca das contribuições financeiras aos candidatos neste ciclo eleitoral. De acordo com a análise, pelo menos 180 pessoas com histórico de multas doaram um total de R$ 10,4 milhões para candidaturas de diferentes partidos. Os beneficiários incluem Bolsonaro, dez candidatos a governador, oito ao Senado, 47 à Câmara dos Deputados e 67 às assembleias legislativas estaduais. O principal destinatário dos recursos é o PL, legenda do atual mandatário nacional, que recebeu R$ 2,3 milhões até o final de agosto. Outros partidos, como MDB e PSD, também figuram nessa relação.

Em tempo 2: Para registrar. Ao que parece, o boiadeiro não vai com a cara de motoqueiros.

 

ClimaInfo, 5 de setembro de 2022.

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