Parlamento Europeu aprova restrição à compra de commodities relacionadas ao desmatamento

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AP Photo/Jean-Francois Badias

As ameaças do Brasil e de outros países exportadores de commodities não surtiram efeito. Nesta 3ª feira (13/9), o Parlamento Europeu aprovou uma resolução que estabelece restrições à importação de produtos que tenham relação com o desmatamento, o que afeta diretamente os interesses comerciais do agronegócio brasileiro. Os importadores precisarão comprovar que os produtos comprados, como carne bovina, soja e óleo de palma, estão livres de desmatamento ocorrido depois de dezembro de 2021; caso contrário, sua entrada poderá ser barrada nos mercados da União Europeia.

A medida foi proposta pela Comissão Europeia, braço executivo da UE, com propósito duplo. Por um lado, diminuir o impacto dos consumidores europeus em termos de emissões de gases de efeito estufa, em linha com os objetivos climáticos do bloco, reduzindo assim sua “importação de desmatamento”. Por outro, incentivar e proteger os produtores que estão alinhados com essas metas de mitigação climática e de proteção do meio ambiente, penalizando aqueles que ainda não o fizeram.

Já na visão do governo brasileiro, a proposta viola as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), ao criar uma barreira não-tarifária que discriminará os produtos exportados pelo país ao mercado europeu. Em julho, o Itamaraty articulou outros 13 países produtores de commodities e apresentou uma carta à Comissão Europeia criticando a medida, assinalando que ela dificulta, ao invés de facilitar, a ação climática nos mercados exportadores.

“Reconhecendo que a UE é responsável por cerca de 10% do desmatamento global [por meio do comércio], não temos escolha a não ser intensificar nossos esforços para deter o desmatamento. Se conseguirmos o equilíbrio certo entre ambição, aplicabilidade e compatibilidade com a OMC, essa nova ferramenta tem o potencial de abrir caminho para cadeias de suprimentos livres de desmatamento”, afirmou o europarlamentar Christophe Hansen, de Luxemburgo, relator da proposta. De toda forma, a aprovação da proposta pelo Parlamento Europeu é apenas uma etapa do processo legislativo da UE. Para que ela efetivamente saia do papel, todos os 27 países integrantes do bloco deverão aprová-la.

Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, “o recado do Parlamento Europeu foi claro: a sociedade de um dos maiores mercados consumidores do mundo não quer mais desmatamento em seu prato, em sua casa e em seus automóveis. Passa da hora de países produtores de commodities, como o Brasil, pararem de se fingirem de surdos. Zerar o desmatamento tropical é uma obrigação moral com as pessoas, os ecossistemas e o clima, e agora será também um pré-requisito para os negócios”.

Associated Press, UOLValor e Metrópoles repercutiram a notícia.

Em tempo: Enquanto isso, o Estadão conversou com o embaixador da UE no Brasil, o espanhol Ignacio Ybañez, sobre o futuro do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. De acordo com o diplomata, a Comissão Europeia já tem um esboço de adendo ao acordo original que reforçará os aspectos de proteção socioambiental, em linha com o que tem sido cobrado por governos da UE e grupos sociais nos dois continentes. Entre os pontos que podem estar no novo texto, está a exigência de que os governos do Mercosul destinem mais recursos para órgãos de fiscalização e preservação ambiental, como o IBAMA.

 

ClimaInfo, 14 de setembro de 2022.

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