Eleições: com apoio de Marina Silva, programa de Lula fica mais “verde”

Eleições 2022 Lula e Marina Silva
Ricardo Stuckert

A declaração de apoio da ex-ministra Marina Silva ao candidato do PT à Presidência, o ex-presidente Lula, serviu como um elixir verde para o programa de governo petista nas eleições de outubro. Uma análise do Observatório do Clima comparou os principais pontos das propostas apresentadas por Lula e seus rivais da 3ª via, como Ciro Gomes e Simone Tebet, considerando 25 itens da agenda socioambiental, em uma escala que vai do “favorável em parte” (apoio parcial), “favorável”(apoia, sem detalhar) ao “francamente comprometido”.

Antes da aliança com Marina, Lula estava atrás de Tebet em termos de compromissos ambientais. Para ganhar o apoio da ex-ministra, o candidato petista teve que reforçar suas promessas na área ambiental, especialmente em itens como agricultura de baixo carbono, demarcação de Terras Indígenas, criação de Unidades de Conservação e o fortalecimento dos órgãos ambientais.

No geral, os três candidatos sinalizam mais apoio à política ambiental do que o atual presidente. Entretanto, nenhum deles se compromete com uma meta climática compatível com o limite de aquecimento de 1,5ºC definido pelo Acordo de Paris, com a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis e a barrar projetos antiambientais no Congresso Nacional. Os programas de governo também possuem lacunas curiosas: por exemplo, a retomada do Fundo Amazônia pelo próximo governo é citada apenas por Tebet, a despeito de Lula ter sido seu criador.

Ainda no noticiário eleitoral, Mônica Bergamo informou na Folha que o empresário Rubens Ometto, um dos nomes mais poderosos do agronegócio brasileiro, já se encontrou pelo menos duas vezes com Lula durante a campanha eleitoral. Ometto é o maior doador financeiro para candidatos e partidos nestas eleições – até agora, foram quase R$ 5,8 milhões doados a 25 nomes e partidos, incluindo o PT.

Não coincidentemente, Lula fez um recuo estratégico em suas críticas mais ácidas ao agronegócio. Em entrevista ao Canal Rural, o ex-presidente ressaltou que o setor foi um dos mais beneficiados durante os governos petistas e disse não ver problema em fazendeiros terem “uma ou duas armas” para defender suas propriedades. O Valor repercutiu essa informação.

Para fechar, a campanha de Lula recebeu uma sinalização importante, ainda que discreta, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em nota divulgada nesta 5ª feira (22/9), o tucano pediu aos eleitores que votem em “quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e está empenhado na preservação do nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel histórico do Brasil no cenário internacional”. Para bom entendedor, quatro dedos bastam.

Em tempo: O Gabinete dos Bichos publicou no Twitter um levantamento sobre os principais doadores à campanha de um ex-ministro do meio ambiente do atual governo à Câmara dos Deputados. Para surpresa de ninguém, a turma do agro é a principal entusiasta financeira do boiadeiro candidato a deputado federal. Destaque para os donos de usinas de cana – incluindo, vejam a ironia, Rubens Ometto.

 

ClimaInfo, 23 de setembro de 2022.

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