Nestlé compra gado criado ilegalmente em Terra Indígena do MT

22 de setembro de 2022
Nestlé carne de desmatamento
Divulgação

Gigantes do setor alimentício global, como a Nestlé e o McDonald’s, estão comprando carne bovina de áreas desmatadas e ocupadas ilegalmente por pecuaristas na Terra Indígena Myky, no Mato Grosso. 

Uma reportagem investigativa conjunta do Joio e o Trigo, do Bureau of Investigative Journalism (TBIJ), da NBC News e do Guardian, revelou os caminhos que o gado de origem ilegal percorre desde o território indígena até um abatedouro da Marfrig, segundo maior frigorífico do Brasil.

Tal como outros territórios indígenas, a Terra Myky está em um limbo jurídico que dura mais de décadas. Reconhecida nos anos 1970, ainda sob a ditadura militar, a reserva foi contestada na Justiça por fazendeiros que alegam que a criação da área não incluiu os estudos técnicos relativos à ocupação indígena do território. 

Mesmo com a realização dessas análises, que reconheceram a totalidade da Terra Myky para demarcação oficial, o processo está congelado e o governo federal não tem atuado para manter invasores fora da reserva. 

A insegurança jurídica e a omissão governamental estão favorecendo o avanço dos fazendeiros sobre o território indígena: “Nesse pasto, onde os brancos estão morando, também era nossa aldeia, mas agora eles estão criando gado”, lamentou Xinuxi Myky, o ancião de uma comunidade Myky.

A reportagem mostrou que as fazendas ilegais que ocupam a Terra Myky estão abastecendo um abatedouro da Marfrig em Tangará da Serra. Desde 2014, essa unidade exportou quase US$ 6 bilhões em produtos de carne bovina para países como Alemanha, China, Espanha, Itália e Reino Unido. A carne tem sido usada na fabricação de hambúrgueres vendidos pelo McDonald’s e até mesmo papinha de bebê da Nestlé. O UOL também repercutiu a notícia.

Em tempo 1: Representantes do Povo Karipuna participaram esta semana de encontros com diplomatas de países europeus em Brasília para pedir ajuda por conta da invasão crescente de Terras Indígenas. “Estamos pedindo socorro e estamos cansados. Estamos há sete anos fazendo denúncias em diversos órgãos brasileiros, mas o Estado não cumpre seu dever de proteção territorial, de proteger nossas Terras”, denunciou o cacique André Karipuna a embaixadores europeus. “Por isso pedimos a vocês que cobrem do governo brasileiro providências contra os grileiros, os madeireiros e os pescadores que invadiram nosso território. Estamos vivendo quase uma guerra. Recebemos ameaças de morte o tempo inteiro”. O Greenpeace Brasil deu mais informações.

Em tempo 2: Em entrevista ao site ((o)) eco, a ativista indígena e candidata à Câmara Sônia Guajajara defendeu uma maior participação dos Povos Indígenas nas discussões políticas no Brasil. Para ela, mais do que um ministério dedicado às questões indígenas, é necessário que os Povos Originários tenham voz e espaço na construção das políticas para cultura, educação, saúde, justiça e meio ambiente. “Para nós, ficou o recado de que era preciso partir para cima dentro da institucionalidade. A gente ficar batendo pé aqui fora não está sendo suficiente para evitar tantos retrocessos”, disse.

 

ClimaInfo, 23 de setembro de 2022.

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