Transamazônica, 50 anos depois: o balanço de um desastre

27 de setembro de 2022
Transamazônica 50 anos
Marlon Dutra

Era o tempo do “Brasil Potência”. A economia brasileira bombava, a ditadura militar bombardeava, e nada parecia conter este ímpeto. Tudo parecia possível para a elite civil-militar que comandava o país no começo dos anos 1970 – até mesmo os projetos mais mirabolantes.

Foi nesse caldo de autoritarismo político e irresponsabilidade fiscal que o governo brasileiro se enterrou em um dos projetos mais surreais da história do país: a construção de uma megarrodovia no meio da floresta amazônica.

Cinco décadas depois, a Transamazônica, o “símbolo do futuro” como era vendida pelos tecnocratas que alimentaram os delírios do governo militar na época, é uma cicatriz grosseira e inútil na Amazônia, um empreendimento que trouxe tudo, menos progresso e desenvolvimento.

A estrada segue inacabada, com pouco mais da metade dos 8 mil km iniciais executados; a maior parte dela, sem asfalto nem estrutura básica. Os projetos de ocupação do “deserto verde” foram deixados para trás depois que a maré econômica virou contra o Brasil, abandonando milhares de colonos – a maior parte vindos do Nordeste seco e empobrecido – no meio da selva.

Mas o impacto mais forte está na própria floresta. “Havia estimativa de escavação de aproximadamente 35 milhões de metros cúbicos de terra e foram erguidos cerca de 4 mil metros de pontes de madeira. Nessa mesma proporção, o desmatamento já alcançava cerca de 100 milhões de metros quadrados. Árvores com mais de 50 metros de altura e centenas de anos de vida iam ao chão em poucos minutos e, com elas, toda uma biota era arrancada e destruída”, explicou o historiador César Martins de Souza, da Universidade Federal do Pará (UFPA), à Deutsche Welle.

Quem já vivia na floresta, principalmente os povos Indígenas, também sentiu pesado o impacto das motosserras e dos tratores que abriram a Transamazônica nos anos 1970. Muitos dos conflitos fundiários inaugurados com a chegada da rodovia seguem sem solução, em um ciclo sem fim de violência. A Folha abordou o caso do assentamento Irmã Dorothy Stang, na altura do km 80 da BR-230, parte da Transamazônica, em Anapu (PA). Há pouco mais de um mês, uma escola comunitária foi incendiada por criminosos ainda não identificados. A principal suspeita é de que o incêndio tenha sido feito por pistoleiros a mando de fazendeiros contrários aos assentados.
Quem tiver interesse no tema pode também ouvir o quarto episódio do podcast Tempo Quente, que resgata a história da Transamazônica.

Em tempo 1: Três grandes projetos de infraestrutura defendidos pelo governo Bolsonaro podem impulsionar a devastação ambiental na Amazônia e no Pantanal nas próximas décadas. A Repórter Brasil destacou as obras da Ferrogrão, que pretende ligar o norte do Mato Grosso ao porto de Miritituba (PA); de ampliação da rodovia Transpantaneira, que corta a planície alagada do Mato Grosso ao Mato Grosso do Sul; e de pavimentação da BR-319, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM).

Em tempo 2: A Mongabay mostrou o começo das obras de pavimentação da BR-319 no chamado Trecho do Meio. Mesmo sem a licença definitiva do IBAMA, operários e equipamentos já podem ser vistos na região, preparando o local. Outra coisa que também pode ser vista nessa área é a devastação ambiental, com a derrubada de novas áreas de floresta e o aumento das queimadas.

 

ClimaInfo, 27 de setembro de 2022.

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