“Indígenas raiz” e alguns recentes autodeclarados devem se enfrentar no Congresso

Bancada do Cocar
Katie Maehler/APIB

O desempenho de candidatas e candidatos indígenas nas eleições de 2022 segue repercutindo. Além da vitória de Sônia Guajajara e Célia Xakriabá para a Câmara Federal, outras cinco pessoas, algumas recentemente autodeclaradas indígenas, passarão a ocupar assentos no Legislativo Federal.

A Folha e o g1 fizeram a lista: na Câmara, Guajajara e Xakriabá terão a companhia dos deputados Paulo Guedes (MG) e Juliana Cardoso (SP), ambos do PT, além da deputada eleita Silvia Waiãpi (AP). Já no Senado, Wellington Dias (PT) e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) lá estarão respectivamente pelo Piauí e pelo Rio Grande do Sul.

Mourão e Guedes são casos curiosos. Mourão causou polêmica ao alterar sua denominação étnica no registro do Tribunal Superior Eleitoral de branco para indígena; ele disse que um “erro de preenchimento” fez com que fosse registrado inicialmente como branco. Caso semelhante é o do deputado Paulo Guedes, que também mudou sua autodeclaração étnica: em 2018, ele se classificou como pardo e, neste ano, como indígena.

Não veremos uma “bancada do cocar” unida. As representantes indígenas e os recentemente autodeclarados entram no Legislativo em lados distintos do embate político-partidário. Enquanto Guajajara e Xakriabá são do PSOL e apoiam a candidatura do ex-presidente Lula (PT), Waiãpi apoia Bolsonaro e é próxima da senadora eleita Damares Alves (DF). No atual governo, Waiãpi chegou a chefiar a Secretaria de Saúde Indígena (SESAI).

As deputadas indígenas e os recém autodeclarados entrarão em um Congresso com maior teor ideológico do que o atual, com a presença de nomes que causaram tensões e conflitos nos últimos anos – em particular, um certo ex-ministro do meio ambiente do governo Bolsonaro que conseguiu se eleger deputado por SP. “Ele deveria se envergonhar de sair candidato depois do que fez no ministério do meio ambiente, como anistiar desmatadores e permitir a extração de madeira ilegal”, criticou Guajajara, que será colega dele na bancada paulista na Câmara, ao UOL Universa. Ela promete ser uma “pedra no sapato” do ex-ministro nos próximos anos.

Em tempo 1: Vale a pena ler o texto de Bruno Stankevicius Bassi (De Olho nos Ruralistas) na Folha. Ele fez um balanço do poder que a bancada ruralista terá na próxima legislatura e o impacto que os resultados da eleição deste ano terão no esforço de preservação ambiental e defesa dos direitos indígenas. Bassi também destacou vitórias importantes, especialmente de representantes indígenas e de outros movimentos sociais, que terão espaço e voz no Congresso para combater a “boiada” antiambiental.

Em tempo 2: A TV Cultura repercutiu o aumento da violência contra indígenas em setembro. Pelo menos oito assassinatos foram confirmados no último mês, atingindo membros dos povos Guarani-Kaiowá, Guajajara, Pataxó e Turiwara. Na média, ocorreu uma morte indígena violenta a cada quatro dias.

 

ClimaInfo, 05 de outubro de 2022.

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