Intensificação do desmatamento leva espécies não florestais à Amazônia e aumenta risco de epidemias

Amazônia espécies não florestais
Carlos Ortúzar Ferreira

O avanço do desmatamento na Amazônia está criando uma situação biológica curiosa – e preocupante. No site ((o)) eco, Cristiane Prizibisczki escreveu sobre a presença mais frequente de espécies de animais exógenas à fauna normal na região amazônica, como a pomba-campestre e o lobo-guará.

Para especialistas, a chegada de animais de outros biomas à Amazônia é mais uma evidência da intensificação do processo de destruição da floresta. Um estudo recente abordou o caso das pombas-campestres (Zenaida auriculata), naturais do Nordeste brasileiro. Como nos anos 1970, quando a espécie se proliferou no interior de São Paulo e Paraná por conta da expansão da agricultura e da pecuária, ela também está encontrando na Amazônia atual um terreno propício para se estabelecer.

“Nós mostramos que a espécie vem ampliando sua distribuição geográfica em nítida sobreposição com áreas desmatadas”, assinalou o veterinário Carlos Ortúzar Ferreira, um dos autores do estudo. “O desmatamento no bioma amazônico modifica áreas florestais, transformando-as em campos abertos, semelhantes ao habitat preferencial de Zenaida auriculata, o que contribui para o sucesso da espécie em colonizar essas áreas”, completou Alexandre Gabriel Franchin, que também assina a análise.

Outro estudo também abordou as consequências biológicas da intensificação do desmatamento, dessa vez de “dentro para fora” – ou seja, as doenças conhecidas e desconhecidas que hoje estão contidas na Amazônia e que podem se tornar zoonoses de alcance global. Conduzido pelo pesquisador Joel Henrique Ellwanger, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o estudo revisou centenas de análises sobre a relação entre zoonoses e desequilíbrios ambientais. Para ele, os dados científicos mostram os “riscos elevados” de surgimento e reemergência de doenças infecciosas a partir da Amazônia caso a destruição florestal siga no ritmo atual. A Folha deu mais detalhes.

Em tempo: Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon mostraram o tamanho do buraco da destruição florestal na Amazônia neste ano de 2022. De janeiro a setembro, foram derrubadas quase 9,07 mil km2 de área vegetal, o que corresponde a quase oito vezes a extensão do município do Rio de Janeiro. Essa foi também a maior devastação registrada para esse período dos últimos 15 anos, além do 5º ano consecutivo em que a área desmatada nos nove primeiros meses superou os 3,5 mil km2. g1 e Valor, entre outros, repercutiu esses dados.

 

ClimaInfo, 19 de outubro de 2022.

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