Desmatamento sem controle: o que a Amazônia pode experimentar caso Bolsonaro seja reeleito

desmatamento Amazônia
Rodrigo Baleia / Greenpeace

Um hipotético segundo mandato de Jair Bolsonaro à frente da Presidência da República pode ser catastrófico para a Amazônia brasileira, levando o ritmo de desmatamento aos piores níveis em mais de três décadas. A estimativa é de um grupo de pesquisadores encabeçado por Gilberto Câmara, ex-diretor do INPE, a pedido de Giovana Girardi na Folha. Pela conta, se forem mantidas as políticas ambientais adotadas neste mandato, a devastação florestal pode superar a barreira dos 20 mil km2 anuais já em 2024.

Quando Bolsonaro assumiu o poder, no começo de 2019, a taxa anual de desmatamento calculada pelo sistema PRODES/INPE estava em torno de 7,5 mil km2. De lá para cá, a Amazônia registrou um aumento médio anual de 20% na área florestal derrubada, o que puxou a taxa para 13 mil km2 no último ano. Os dados relativos ao período anual mais recente (agosto de 2021 a julho de 2022) só devem ser divulgados no próximo mês, mas especialistas esperam que esse número chegue a 15 mil km2 de desmatamento no período.

“O governo Bolsonaro desmontou os principais órgãos de fiscalização ambiental, reduziu o orçamento do INPE a 20% do que o Instituto recebia em 2010, além de demitir seu diretor [Ricardo Galvão, em 2019]”, destacou Câmara em nota técnica. “Entre 2016 e 2021, houve queda de 40% nos autos de infração do IBAMA na Amazônia. O embargo de áreas desmatadas caiu em 85% em 2020 comparado com 2018. Em 2021, o IBAMA só liquidou 41% de seu orçamento”.

Um dos principais motivos por trás da escalada do desmatamento no governo Bolsonaro foi a paralisação completa do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), instrumento importantíssimo para derrubar a taxa de desmatamento na Amazônia a partir da 2ª metade dos anos 2000, na gestão da então ministra Marina Silva, sob o governo Lula.

O plano propunha políticas transversais, combinando medidas de comando e controle, como fiscalização e monitoramento via satélite, e incentivos a atividades econômicas que favorecem a floresta em pé, além do ordenamento fundiário e territorial. Como resultado, a taxa de desmatamento desabou mais de 70% entre 2005 e 2012, para os menores níveis da história. No entanto, tudo isso foi congelado sob o governo Bolsonaro.

“Quando Bolsonaro diz que houve mais desmatamento com Lula é uma forma de sofismar, manipular, falar mentiras com dados. Lula pegou o desmatamento alto, criou os instrumentais, botou para funcionar e empurrou o desmatamento para baixo. Outra coisa é o que Bolsonaro fez: desmontou os instrumentos e empurrou o desmatamento para cima ao dar poder para a criminalidade”, observou Marina.

Em tempo: A revista científica Nature declarou voto no segundo turno da eleição presidencial brasileira. Com o título “Só há uma escolha nas eleições brasileiras – para o país e para o mundo”, e o subtítulo “Um segundo termo para Jair Bolsonaro representaria uma ameaça para a ciência, a democracia e o meio ambiente”, uma das mais importantes revistas científicas do mundo diz que os brasileiros têm “uma oportunidade valiosa para começar a reconstruir o que Bolsonaro destruiu”, e que, “se Bolsonaro conseguir mais quatro anos, os danos podem ser irreparáveis.”

 

ClimaInfo, 26 de outubro de 2022.

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