“Vício em energia fóssil” ameaça saúde global, alertam cientistas

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Reprodução vídeo France24

A saúde da população mundial está à mercê do vício da economia em combustíveis fósseis, que atrasa a transição energética e arrisca intensificar os danos gerados pela crise climática sobre as condições de vida da humanidade, principalmente nos países mais pobres e vulneráveis.

O alerta é do novo relatório Lancet Countdown, editado pela revista The Lancet, principal periódico acadêmico médico do mundo, e que foi elaborado por quase 100 especialistas de 51 instituições científicas de todo o mundo. 

O relatório analisa 43 indicadores de saúde e clima, incluindo exposição ao calor extremo. Em praticamente todos os referenciais, o cenário é negativo. 

Por exemplo, as mortes relacionadas ao calor em grupos mais vulneráveis (como bebês com menos de um ano de idade e adultos com mais de 65) aumentaram 68% nos últimos quatro anos na comparação com o começo deste século.

Já a intensificação de ondas de calor resultou em um aumento de cerca de 40% no total de horas de trabalho perdidas em relação aos anos 1990, com perdas econômicas associadas de US$ 700 bilhões.

Outro ponto crítico assinalado pelo relatório é a situação dos sistemas de saúde nos países, ainda debilitados pelos efeitos de longo prazo da pandemia de COVID-19.

Mesmo com a experiência dos últimos dois anos e meio, a maior parte dos países ainda não considera os reflexos da crise climática em seu planejamento, o que compromete a resposta a episódios de clima extremo, como fortes ondas de calor e inundações-relâmpago causadas por tempestades e chuvas intensas.

No entanto, o que mais preocupa os cientistas é a lentidão dos governos, que se tornou mais aparente nos últimos meses, para deixar de queimar combustíveis fósseis em favor de fontes renováveis de energia.

“A dependência de combustíveis fósseis não está apenas prejudicando a saúde global por meio do aumento dos impactos das mudanças climáticas, mas também afeta a saúde e o bem-estar humanos diretamente, por meio de mercados de combustíveis fósseis voláteis e imprevisíveis, cadeias de suprimentos frágeis e conflitos geopolíticos”, assinalou o documento.

“Como resultado, milhões de pessoas não têm acesso à energia necessária para manter suas casas em temperaturas saudáveis, preservar alimentos e medicamentos e cumprir o 7º Objetivo do Desenvolvimento Sustentável [garantir acesso à energia acessível, confiável, sustentável e moderna para todos].  Sem apoio suficiente, o acesso à energia limpa tem sido particularmente limitado em países com baixo índice de desenvolvimento humano, e apenas 1,4% da eletricidade destes veio de fontes renováveis modernas em 2020”. 

O novo relatório da Lancet foi destacado por veículos como AFP, Associated Press, BBC e Guardian.

Em tempo: Outra análise científica, esta publicada na revista Bioscience nesta semana, apontou para um cenário igualmente crônico nos “sinais vitais” da Terra, considerando os efeitos da crise climática e da perda de biodiversidade sobre os ecossistemas. Dos 35 indicadores da vida terrestre, 16 chegaram a extremos-recorde no último ano, como a taxa de derretimento de geleiras e coberturas de neve, desmatamento, temperatura dos oceanos e concentração média de CO2 na atmosfera. “Como podemos ver pelos surtos anuais de desastres climáticos, estamos agora no meio de uma grande crise climática, com [desastres] muito piores por vir se continuarmos fazendo as coisas do jeito que temos feito”, observou Christopher Wolf, da Universidade do Estado do Oregon (EUA) e um dos autores principais do estudo, citado pelo Correio Braziliense.

 

ClimaInfo, 27 de outubro de 2022.

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