Três anos após a passagem do ciclone Idai, Moçambique ainda convive com os efeitos da tempestade que deixou boa parte de seu território debaixo d’água. Naquela época, as autoridades moçambicanas estimavam necessitar de até US$ 3,5 bilhões para atender suas necessidades emergenciais e iniciar sua reconstrução. No entanto, somente 30% desse valor foi efetivamente destinado pela comunidade internacional ao país.
Para Moçambique, a discussão sobre perdas e danos realizada na COP27 aconteceu tarde demais. Cansado de esperar pela boa vontade das economias mais ricas do mundo, o país aposta na exploração de suas vastas reservas de gás natural para financiar sua reconstrução e desenvolvimento. Ou seja, para atender às necessidades criadas pelo clima extremo, os moçambicanos querem exportar um produto cujo consumo contribui diretamente para a intensificação de eventos como o Idai.
“Precisamos permitir uma oportunidade para que esses combustíveis fósseis sejam explorados, e assim gerar recursos para energias renováveis”, justificou Filipe Nyusi, presidente de Moçambique, em entrevista à Bloomberg. “Os países desenvolvidos tiveram essa oportunidade”.
O problema é que, como no resto do mundo, apostar na energia fóssil agora é arriscar perder muito dinheiro no futuro, já que dificilmente esses investimentos terão o retorno esperado por conta da competitividade crescente das fontes renováveis de energia. Esse risco é ainda mais grave no caso de países pobres, que podem desperdiçar recursos escassos com “ativos encalhados” no futuro.
Ainda assim, impedir Moçambique ou qualquer país pobre de explorar suas reservas de energia fóssil sem oferecer alguma alternativa, seja de oferta de recursos ou transferência de tecnologia, é condená-los a uma condição crônica de vulnerabilidade climática. Aqui, o descaso e a falta de compromisso dos países desenvolvidos – os mesmos que cobram essas nações a manter suas reservas fósseis debaixo do chão – é o problema central.
O Globo publicou uma tradução desta reportagem.
ClimaInfo, 28 de novembro de 2022.
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