Crise energética: Reino Unido aprova 1ª mina de carvão em 30 anos

Reino Unido Cumbria mina carvão
Andy Rain/EPA

Mesmo com pressão contrária da sociedade civil e de ambientalistas, o governo do Reino Unido aprovou nesta semana a abertura da primeira mina de carvão em três décadas. A planta aprovada fica em Whitehaven, na região de Cumbria, e deve consumir cerca de 165 milhões de libras esterlinas nos próximos anos para produzir 2,8 milhões de toneladas de carvão de coque por ano – bem como 400 mil toneladas anuais de dióxido de carbono equivalente (CO2e).

A decisão das autoridades britânicas vai contra os objetivos climáticos estabelecidos por Londres nos últimos anos. Sede da COP26 no ano passado, o Reino Unido foi o primeiro a formalizar o objetivo de atingir as emissões líquidas zero de gases de efeito estufa (net-zero) até 2050. A justificativa do governo para a abertura da mina é de que, como está programada para encerrar sua produção em 2049, ela não prejudicaria os planos climáticos nacionais.

Por razões óbvias, essa desculpa não colou entre ambientalistas britânicos e ao redor do mundo. Como o Climate Home bem assinalou, muitos criticaram o Reino Unido de “hipócrita” por ter pressionado pelo fim do uso do carvão durante as negociações da COP26 para depois autorizar uma nova mina em seu território.

“Essa decisão aumenta as emissões globais e prejudica os esforços do Reino Unido para atingir o net-zero. Isso vai contra os objetivos declarados do país como presidente da COP26 e envia um sinal totalmente errado para outros países sobre nossas prioridades climáticas”, reclamou Lord Deben, presidente do Comitê Independente de Mudanças Climáticas do Reino Unido.

Na mesma linha, o primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, que presidiu as negociações da COP23, em 2017, ironizou no Twitter a decisão britânica. “É este o futuro pelo qual lutamos sob o Pacto de Glasgow? Os combustíveis fósseis devem ser abandonados, e não impulsionados”.

Para deixar a coisa ainda mais rocambolesca, o Guardian mostrou que a mina é propriedade de uma empresa internacional de private equity, com conexões em países diversos, como Rússia e Austrália. A West Cumbria Mining, proprietária efetiva da mina, pertence à EMR Capital, sediada nas Ilhas Cayman. Entre seus executivos, a EMR Capital mantém nomes como Owen Hegarty, ex-Rio Tinto, e Tony Manini, envolvido com projetos de carvão na Rússia.

A notícia teve ampla repercussão, com destaques na Associated Press, BBC, Bloomberg, CNN, Guardian, Independent e Reuters, entre outros.

 

ClimaInfo, 9 de dezembro de 2022.

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