Eles não têm mandato popular, nem são exatamente especialistas nos diferentes campos de atuação, mas têm algo que pouca coisa nesse mundo é capaz de fazer frente: dinheiro, muuuuito dinheiro. E com isso, muita influência, inclusive na discussão sobre mudanças climáticas.
Por exemplo, por que raios deveríamos ouvir o que pensam personalidades tão díspares como Bill Gates, Michael Bloomberg, Jeff Bezos e Elon Musk? Eles não possuem conhecimento técnico sólido no tema, não são políticos eleitos pelo povo para lidar com o assunto, mas o fato de terem uma bolada de dinheiro os coloca “na janelinha” do debate, enquanto líderes políticos de grandes nações muitas vezes seguem a pé.
O pesquisador David Victor, da Universidade da Califórnia em San Diego, pondera, no Washington Post, que quando grandes programas políticos públicos não conseguem avançar na agenda da descarbonização, essa meia-dúzia de endinheirados pode conseguir algum progresso real. O problema é que essa situação cria distorções de poder. Como bem assinalou na CNN uma herdeira dessa turma, a documentarista Abigail Disney, menos de 130 pessoas entre todas as que habitam o planeta têm o poder de decidir o futuro do restante. E, por ora, nenhuma delas está efetivamente disposta a colocar sua riqueza imensurável a serviço do bem-estar e da sobrevivência da imensa maioria.
“Muitos desses bilionários detêm extensas participações em muitas das maiores e mais poderosas corporações do mundo e, portanto, detêm o poder – como indivíduos – de influenciar a maneira como as empresas agem. Eles ajudam a moldar o futuro da nossa economia. E muitos deles ficam parados enquanto as empresas estabelecem e depois falham em cumprir uma meta de responsabilidade social após a outra, principalmente por causa do esforço de agregar valor aos acionistas e outros investidores”, escreveu.
Elon Musk, dono da SpaceX, da Tesla e, agora, do Twitter, foi por algum tempo o queridinho das fileiras sustentabilistas do mundo corporativo, o pioneiro dos veículos elétricos modernos. A aquisição do Twitter mostrou, com pompa e circunstância, o lado polemista do bilionário. Ele se declara um defensor da liberdade absoluta de expressão e vem desmontando sem cerimônia as políticas de combate à desinformação climática na rede social. O resultado: as fake news sobre clima explodiram no Twitter nos últimos meses, como mostra a Associated Press, da mesma forma que as mentiras sobre COVID, o golpismo bolsonarista, entre outros movimentos extremistas.Vale a pena conferir um balanço feito por Emily Atkin no Heated, no qual os avanços de Musk na Tesla e SpaceX são contrastados com os descalabros dele no Twitter e em outras empresas. “Pessoalmente, quando olho para Musk, não vejo um ‘clima líquido positivo’. Vejo um megalomaníaco que prefere ver o mundo queimar do que não estar no centro dele”.
ClimaInfo, 1º de fevereiro de 2023.
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