Obra prioritária do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, o asfaltamento do chamado “trecho do meio” da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), resultou em um aumento do desmatamento no entorno da rodovia. De acordo com levantamento do Observatório do Clima, a taxa de desmate cresceu 122% entre 2020 e 2022 nos municípios que margeiam a estrada; só no último ano, a alta foi de 110%.
Feito a partir de dados do INPE, o levantamento analisou o desmatamento em uma faixa de 50 km no entorno da BR-319. Desde o final de 2020, quando o então ministro Tarcísio de Freitas (hoje governador de São Paulo) anunciou a pavimentação da rodovia, a região vive a expectativa em torno da obra. No ano passado, o IBAMA concedeu licença prévia para as obras na porção ambientalmente mais sensível do “trecho do meio”, de 405 km de extensão.
Para especialistas, a intensificação da destruição florestal nessa área está diretamente ligada às obras na rodovia. “A mera perspectiva de uma obra de infraestrutura movimenta o mercado da grilagem e incentiva a ocupação, em busca de anistia futura. Essa é uma constante na história da Amazônia”, observou Marcio Astrini, secretário-executivo do OC.
O novo presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, afirmou que está analisando a licença prévia da obra e, caso sejam detectadas irregularidades, medidas serão tomadas pelo governo. “Com o anúncio da pavimentação do trecho do meio e após a concessão da licença prévia, estamos assistindo a uma ação forte de tentativa de grilagem na região. Qualquer pessoa que se desloca pela estrada vai ver placas vendendo terras localizadas em áreas públicas”, disse.
Agência Pública e ((o)) eco abordaram o levantamento do OC.
Em tempo: O Ministério dos Povos Indígenas e a FUNAI anunciaram o arquivamento do processo disciplinar administrativo aberto na gestão Bolsonaro contra o indigenista Bruno Pereira. O anúncio foi feito no Vale do Javari, região onde ele foi assassinado em junho passado por pescadores ilegais, junto com o jornalista Dom Phillips. A notícia é da Folha.
A FUNAI também fez uma retratação pública a uma nota publicada pelo seu ex-presidente, Marcelo Xavier, na qual difamava e criticava Pereira dias após seu desaparecimento. “Pedimos desculpas às famílias de Bruno e Dom. Os nomes deles foram insultados por autoridades públicas no momento mais difícil da vida de suas famílias e é dever do Estado brasileiro reconhecer a violência difamatória que sofreram, se desculpar com seus familiares e nunca mais permitir a repetição de atos dessa natureza”, afirmou a FUNAI.
ClimaInfo, 1º de março de 2023.
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