Ex-ministro de Bolsonaro chamou teoria sobre desmatamento amazônico de “balela”

ex ministro balela
Reprodução Twitter

A Agência Pública divulgou atas de reuniões do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL) sob o governo do ex-presidente Bolsonaro revelando alguns comentários curiosos, para dizer o mínimo, de membros da antiga gestão sobre a destruição da floresta. As falas evidenciam não apenas o modus operandi do desmonte ambiental promovido pelo governo passado, mas também a dissimulação de seus integrantes diante da pressão internacional em favor do meio ambiente no Brasil.

Um dos comentários que mais chamam a atenção foi feito por (surpresa!) um ex-ministro do meio ambiente do antigo governo que renunciou em 2021 por conta de acusações de envolvimento com um esquema ilegal de exploração madeireira na Amazônia. O sujeito classificou de “balela” a teoria do tipping point (não-retorno), do cientista Carlos Nobre, que aponta para o risco do ecossistema amazônico entrar em colapso a partir do desmatamento e da degradação de 20% a 25% de sua área.

“A savanização da Amazônia [é] balela. Quando o Carlos Nobre e não sei mais quem levantar a teoria do tipping point, você fala: ‘negativo, saíram 16% de vegetação primária, mas teve 8, teve 9, teve 4, teve alguma coisa de recobrimento’”, disse o ex-ministro, que em seguida reconhece o óbvio – ele está falando balela. “Mas não temos dados, então não podemos dizer”.

Os documentos também mostram que membros do antigo governo sugeriram ainda a retomada do Fundo Amazônia, paralisado em 2019 depois do ex-ministro do meio ambiente discordar dos governos doadores de Alemanha e Noruega sobre a gestão dos recursos. Questionado, o sujeito justificou que “em sua configuração original, o processo decisório não atendia ao avanço de projetos de interesse do governo federal”.

Outro comentário curioso foi feito pela então ministra Tereza Cristina (Agricultura), hoje senadora pelo Mato Grosso do Sul. Em um encontro do Conselho, ela defendeu que o governo Bolsonaro não se curvasse às “imposições” de empresas e de atores internacionais sobre a política ambiental brasileira. Na época, o Brasil estava sob pressão de investidores, empresas e governos estrangeiros por causa do descontrole do desmatamento e das queimadas amazônicas.

As atas também mostram que o ex-vice-presidente Hamilton Mourão, senador na atual legislatura, parecia estar mais preocupado com uma “guerra de narrativas” do que com a escalada do desmatamento na Amazônia. Em uma reunião em agosto de 2021, Mourão classificou a sustentabilidade como “um dos fatores que influenciam a soberania” no século XXI e defendeu que o Itamaraty respondesse às críticas internacionais, apontando a “inveja” estrangeira, com o agronegócio brasileiro como motivação.

Em tempo: Ainda sobre as reuniões do Conselho da Amazônia no governo passado, a Agência Pública revelou que o então vice-presidente Mourão chegou a admitir, em uma reunião de agosto de 2022, a necessidade de uma “operação de grande envergadura” na Terra Indígena Yanomami para expulsar os garimpeiros que a invadiram. No entanto, como sabemos, o governo Bolsonaro não apenas se omitiu na resposta à crise, mas dificultou o trabalho de órgãos como a Polícia Federal e o IBAMA contra o garimpo ilegal e em favor das comunidades Yanomami.