França vive o inverno mais seco desde 1959

seca na França
AFP - NICOLAS TUCAT

Depois de ter vivido o verão mais quente de sua história, em 2022, a França agora atravessa o inverno mais seco dos últimos 50 anos, o que já afeta os setores agrícola – o maior consumidor de água do país, segundo o France24 – e de geração de energia elétrica, como mostram O Globo e a Bloomberg. Para especialistas ouvidos pela RFI, as mudanças climáticas devem tornar as secas mais frequentes nos próximos anos, com impactos na produção de alimentos.

O déficit de 30% de chuvas gera temores de que falte água no país no próximo verão. De acordo com especialistas da Météo France, o serviço meteorológico francês, a situação pode se tornar crítica se a primavera, que começa em dez dias no Hemisfério Norte, e o verão forem secos e quentes como no ano passado.

O degelo das montanhas francesas é crucial para reabastecer rios e reservatórios esgotados, mas a taxa neste ano é muito mais baixa do que o normal para esta época do ano nos Alpes franceses, nos Pirineus e em outras cordilheiras, informa o USA Today. Como resultado, alguns pontos abundantes em água foram reduzidos a poços lamacentos, como comprovam imagens publicadas pela Reuters.

Por causa da gravidade da situação, o ministro do Meio Ambiente da França, Christophe Béchu, disse que os 100 prefeitos departamentais do país não devem hesitar em promulgar decretos rápidos restringindo o uso local de água. “Estamos soando o alarme, dada a situação em que nos encontramos agora, já que nos aproximamos do fim do que normalmente é o período de recarga dos lençóis freáticos”, frisou, em matéria da Reuters.

O segundo inverno mais quente da história do continente, como mostram Reuters e Euronews, vem preocupando toda a Europa. Em muitas partes do continente, esta estação foi mais seca do que nunca. Além da França, Reino Unido, Alemanha, Holanda, Espanha, Bélgica, Portugal e Itália já não têm água suficiente. Segundo o DW, no sul da Europa, isso já está afetando as safras de trigo e cevada.

Um estudo publicado em janeiro pela Graz University of Technology, na Áustria, feito a partir de dados de satélite para analisar as reservas de água subterrânea, concluiu que a Europa sofre com a seca desde 2018 e sua situação hídrica agora é “muito precária”, informa o Guardian. “Eu nunca teria imaginado que a água seria um problema aqui na Europa, especialmente na Alemanha ou na Áustria. Na verdade, estamos tendo problemas com o abastecimento aqui. Temos que pensar nisso”, disse Torsten Mayer-Gürr, um dos pesquisadores.

Em tempo 1: Em pleno inverno, partes do nordeste da China viveram recordes de temperaturas altas. A cidade de Shahe atingiu 31,8 graus Celsius, segundo dados oficiais. E regiões como Gaoyi, Yongnian e Handan, todas na província de Hebei, ultrapassaram a marca de 30°C mais cedo do que nunca no início do ano, além de experimentar as temperaturas mais altas já registradas na primeira quinzena de março, relata a Reuters.

Em tempo 2: Na manhã de 17 de fevereiro, sexta-feira de Carnaval, o Cerro Tres Picos, no interior da província de Buenos Aires, na Argentina, estava coberto de neve em pleno verão. Fazia cerca de 4°C, recorde em mais de 60 anos. No mesmo dia, a temperatura caiu de 40°C para 15°C no Rio Grande do Sul e, no dia seguinte, a onda gelada quebrou um recorde de 110 anos no estado. No domingo de Carnaval, geou na Serra Gaúcha – dia em que o maior volume de chuva já registrado no Brasil causava uma tragédia no litoral norte de São Paulo. Aparentemente desconexos, os três eventos têm ligação, mostra o Estadão. Uma massa polar de ar seco e frio, associada a um centro de alta pressão estava por trás das quedas de temperatura na Argentina e no Sul do Brasil. Ao avançar em direção a São Paulo, encontrou um fluxo de umidade vindo do mar para o continente, gerado por um centro de baixa pressão.

ClimaInfo, 10 de março de 2023.

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