Estudo: seca na Somália matou mais de 43 mil pessoas, metade crianças, em 2022

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UNICEF

Enquanto os países do sudeste africano continuam contabilizando os mortos pelo ciclone Freddy, a Somália – situada no chamado “Chifre da África”, no nordeste do continente – registra dezenas de milhares de mortes por causa da seca. Um relatório do governo somali, da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da UNICEF divulgado nesta 2ª feira (20/3) estima que cerca de 43 mil pessoas perderam a vida no ano passado devido à escassez de chuvas. E metade dos mortos eram crianças de até cinco anos de idade.

Para piorar o cenário, a persistência da seca e seus efeitos neste ano deve fazer o número de mortes aumentar. O estudo projeta que 135 pessoas podem morrer todos os dias de janeiro a junho devido à crise, totalizando entre 18.100 e 34.200 pessoas mortas nesse período. As estimativas sugerem que o problema está longe de terminar e já é mais grave do que a crise causada pela seca de 2017-2018.

Os números do levantamento foram levantados a partir de um modelo estatístico que estimou que a taxa bruta de mortalidade aumentou na Somália de 0,33 para 0,38 mortes por 10 mil pessoas-dia de janeiro a dezembro de 2022. A taxa em crianças menores de cinco anos foi quase o dobro desses níveis. Para este ano, a previsão é que a taxa bruta de mortalidade atinja 0,42 mortes por 10 mil pessoas-dia até junho, agravando o quadro.

Por enquanto, a ONU optou por não fazer uma declaração formal de fome para a Somália. Contudo, a entidade avalia a situação do país como “extremamente crítica”, com mais de 6 milhões de pessoas passando fome no momento, informa a AP.

Um dos autores do estudo, Francesco Checci disse à Reuters que a falta de uma designação formal de “fome” não deve desviar a atenção do problema. “O que estamos realmente mostrando é que não é hora de desacelerar em termos de financiamento e resposta humanitária”, explicou.

“Estamos correndo contra o tempo para prevenir mortes que podem ser evitadas e salvar vidas”, reforçou o representante da OMS, Mamunur Rahman Malik. Ele acrescentou que o “custo de nossa inação” significaria que crianças, mulheres e pessoas vulneráveis morreriam enquanto “testemunhamos desesperados e impotentes a tragédia se desenrolar”, de acordo com a BBC.

O relatório sobre as mortes provocadas pela seca na Somália foi noticiado também por Bloomberg, g1, New York Times e Wall Street Journal.

Em tempo: A fome e a sede também causam mortes em comunidades indígenas da Colômbia, e, novamente, são as crianças que mais sofrem. De acordo com a AFP, a pobreza afeta 67,4% da população de La Guajira, no extremo norte colombiano, região majoritariamente indígena da etnia Wayúu. A taxa de mortalidade de crianças menores de 5 anos foi de 21 a cada 1.000 nascimentos em 2021, segundo estatísticas das autoridades. Fica atrás apenas da Síria, com 22 mortes a cada 1.000 nascidos, de acordo com a UNICEF. Pelo menos 20 crianças morreram de desnutrição em La Guajira nos primeiros quatro meses do governo de Gustavo Petro, eleito em 2022. Com pouco menos de meio ano no comando do país, Petro admitiu que este é seu primeiro “fracasso”, relata o g1.

ClimaInfo, 21 de março de 2023.

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