Acesso a água e esgoto tratados ainda é questão crítica no Brasil

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Instituto Trata Brasil

Em todo o mundo, 2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável. E mais de um quarto da população mundial vive em áreas com alto risco de escassez hídrica. A gravidade da situação fez com que a ONU organizasse uma conferência internacional dedicada ao tema, que começou nessa quarta-feira (22/3), Dia Mundial da Água. O objetivo do encontro, explica o Valor, é avaliar a implementação da década para ação na água e no saneamento (2018-2028).

“A escassez de água vai pressionar o crescimento econômico nas próximas décadas até 2050. Três a cada quatro empregos no mundo estão ligados à água. Não é futurologia. São dados científicos e estão acontecendo”, disse, em entrevista ao Valor, o escritor, roteirista e jornalista Sérgio Túlio Caldas, autor do livro “Água: precisamos falar sobre isso”.

O Brasil foi à conferência com uma delegação de quase 60 pessoas, entre representantes de cinco ministérios, membros do Congresso, de governos estaduais e municipais, e companhias de água e saneamento. O país vai defender a segurança hídrica e a necessidade de recursos e de cooperação internacional para dar respostas à crise climática.

Entretanto, há vários problemas “dentro de casa” que o Brasil precisa resolver. Um deles é a gestão hídrica, pouco articulada e muito compartimentada. Segundo projeção da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), a demanda pelo uso da água deve crescer 30% no país até 2030. Isso aumenta a disputa entre os variados usos dos recursos hídricos. Hoje, a agropecuária responde por 61% do consumo; o setor de serviços (que inclui abastecimento humano), por 24%; e a indústria, por 15%.

Um outro percalço diz respeito ao reuso da água. Segundo um estudo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (cebds), o país considera a reciclagem de água como uma alternativa mais plausível para fins industriais, menosprezando possibilidades em outros setores. Hoje, apenas 1,5% do esgoto tratado serve a fins de reuso, aponta a pesquisa.

A histórica abundância de água – que já não é tão abundante assim, como mostram pesquisas recentes – também faz o Brasil falhar em cobrar o preço correto pelo uso da água. A necessidade de implementar a precificação da água nas muitas bacias hidrográficas brasileiras onde não há qualquer controle sobre o seu uso é reconhecida pelo mercado. Assim como repensar preços e cobrança nas seis bacias da União e nos seis estados onde ela já ocorre.

No saneamento, o dever de casa também é imenso. Cerca de metade da população brasileira – 100 milhões de pessoas – não têm acesso ao serviço. E esse descaso tem relação direta com a renda. “As 100 milhões de pessoas sem acesso à coleta e tratamento de esgoto e as 35 milhões sem água potável têm um rosto: o dos mais pobres”, diz Édison Carlos, presidente do Instituto Aegea.

A falta de água e esgoto também tem outra correlação direta: a fome. Mesmo com diferenças regionais, 42% das famílias com insegurança hídrica, ou seja, com dificuldade de acesso à água, também convivem com a falta de alimentos. Apenas 14% destes domicílios estavam em segurança alimentar.

Em tempo 1: Saneamento básico e crise climática são a base das pautas desenvolvidas pela ONG Mandí. Formada por articuladoras ambientais, a entidade vem, desde 2016, promovendo ações no território amazônico a partir de uma reflexão crítica sobre a importância das bacias hidrográficas e o processo de urbanização de Belém, no Pará. “Para nós, os rios são o coração da cidade”, explica ao Valor a diretora-presidente Mariana Guimarães.

Em tempo 2: O Rio Pinheiros, na cidade de São Paulo, é o mais poluído entre 120 cursos d’água da Mata Atlântica. O dado faz parte do último levantamento anual da ONG SOS Mata Atlântica, que, desde 2015, lança o estudo para marcar o Dia Mundial da Água, relata a Folha. Nos últimos anos, o rio foi foco de políticas de despoluição do governo paulista. Entretanto, a situação não melhorou muito: “O Pinheiros estava com uma qualidade muito péssima e agora está péssima”, diz Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios, que realiza o estudo.O único rio da capital paulista com água de boa qualidade, segundo a pesquisa, é o Córrego Sapateiro. O curso d’água nasce espremido entre um prédio e uma casa. Em 2021, a Prefeitura de São Paulo e os moradores da Vila Mariana, onde ele nasce, resolveram se unir e dar ao local em que o córrego brota da terra atenção especial, detalha o Estadão. O resultado do empenho foi comprovado pela SOS Mata Atlântica.

ClimaInfo, 23 de março de 2023.

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