Cerrado pode perder quase 35% da água disponível até 2050, mostra estudo

23 de março de 2023

Se o ritmo da exploração agropecuária continuar nos níveis atuais, o Cerrado brasileiro pode perder 34% dos fluxos de seus rios até 2050. Segundo o Correio Braziliense, o volume de água perdido, de 23,6 mil m³/s, equivaleria à vazão total de oito rios Nilo, na África – o maior rio do mundo.

O alerta, também publicado pela Veja, é do fundador e diretor executivo do Instituto Cerrados, Yuri Botelho Salmona, em artigo publicado na revista  Sustainability. Em sua pesquisa, que contou com o apoio do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Salmona mediu o efeito da apropriação da terra para monoculturas e pasto no bioma – que cobre uma área de cerca de 2 milhões de km2, cerca de 20% do território brasileiro.

Foram analisadas 81 bacias hidrográficas do Cerrado entre 1985 e 2022. Segundo o levantamento, a diminuição da vazão foi constatada em 88% delas, em virtude do avanço da agropecuária, ressalta a Agência Brasil.

“O desmatamento para agricultura em larga escala, que demanda intensa irrigação, altera o ciclo hidrológico, de forma que diminui a vazão dos rios. Os principais problemas derivados das mudanças do clima são a evapotranspiração potencial e a chuva. Estamos tendo chuvas mais concentradas, em períodos mais curtos, e os períodos de seca estão sendo mais longos”, explica o pesquisador.

A pesquisa de Salmona aponta que o cultivo de soja, milho e algodão e a pecuária têm influenciado o ciclo hidrológico da região. O estudo também evidencia que mudanças do uso do solo provocam a redução da água em 56% dos casos. O restante (44%) está associado a mudanças climáticas.

No MATOPIBA – polígono entre as fronteiras de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia por onde o agronegócio mais avança no Cerrado –, pelo menos 373 cidades correm risco de desabastecimento e de perda da qualidade de água se os níveis atuais de desmatamento se mantiverem nos próximos anos. É o que sugere uma análise de pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do MapBiomas divulgada pela Agência Pública.

Desmatamento e mudanças climáticas são apontados como a causa para a perda de água em todo o Brasil, país que concentra o maior volume de água doce do mundo, por outro levantamento do MapBiomas. De acordo com o estudo, enquanto em 1991 o país era coberto por 19,7 milhões de hectares de água, em 2022 essa área caiu para 18,2 milhões de hectares. É uma diminuição de 1,5 milhão de hectares – equivalente a 10 vezes a área da cidade de São Paulo.A perda, conta o coordenador da plataforma MapBiomas Água, Carlos Souza Junior, pode estar relacionada com a diminuição dos aquíferos, que abastecem rios e demais corpos hídricos. “Um terreno desmatado, sem vegetação, não tem tempo de absorver a água, porque o escoamento na sua superfície é muito rápido. Sem absorção, não há o abastecimento de solo e subsolo “, diz Souza, em entrevista ao DW.

ClimaInfo, 23 de março de 2023.

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