Contrariando indígenas, Senado ouve representantes do garimpo na Terra Yanomami

garimpeiros no Senado
Geraldo Magela/Agência Senado

A comissão temporária do Senado que analisa a crise humanitária na Terra Yanomami, em Roraima, realizou nesta 4ª feira (22/3) uma audiência pública em Brasília com representantes dos garimpeiros. O evento aconteceu mesmo depois de entidades indígenas ingressarem no Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação para barrar o convite, o que foi rejeitado pelo ministro Edson Fachin.

A presença dos garimpeiros na pauta da comissão não é nenhuma surpresa, considerando que a presidência do grupo está no colo do senador Chico Rodrigues (PSB-RR), defensor notório do garimpo. Ainda assim, para os indígenas, a inclusão dos invasores nas discussões sobre a crise Yanomami vai contra o foco da comissão, que é a situação humanitária dramática vivida pelas comunidades indígenas daquele território.

Em sua justificativa, Rodrigues assinalou que o plano de trabalho foi discutido e aprovado por todos os integrantes da comissão e que a inclusão dos garimpeiros atenderia à necessidade de ouvir “todos os lados” no assunto. “Estamos fazendo esse alerta para que não se possa acusar A, B, C ou D de alguma interferência. A função dessa comissão é levar o Senado Federal a entregar as melhores contribuições para mitigar o problema com ações efetivas”, disse.

Uma das convidadas para a audiência pública foi a Associação Nacional do Ouro (ANORO). Essa entidade é presidida pelo empresário Dirceu Frederico Sobrinho, investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal sob suspeitas de envolvimento com o garimpo ilegal. Ele chegou a ser preso em setembro passado, no âmbito de um inquérito sobre os financiadores do garimpo na Terra Yanomami.

Enquanto isso, o g1 informou que a circulação de aeronaves clandestinas segue intensa mesmo com as restrições impostas pela Aeronáutica. Nos últimos dias, dois aviões e um helicóptero foram flagrados por agentes do IBAMA transportando carregamentos para o garimpo.

“Com os bloqueios físicos nos rios [Uraricoera e Mucajaí, bastante utilizados pelo garimpo ilegal na Terra Yanomami], a gente conseguiu cessar a logística fluvial dele. Mas eles alternaram exclusivamente para a logística aérea. Inclusive esses aviões e helicópteros clandestinos estão garantindo a continuidade das atividades ilegais dentro do território indígena”, afirmou Felipe Finger, coordenador-geral do Grupo Especial de Fiscalização (GEF) do IBAMA.

Em entrevista à Reuters, o diretor do departamento de meio ambiente e Amazônia da Polícia Federal, Humberto Freire, destacou que a maior parte dos garimpeiros invasores já deixou o território Yanomami. “Ainda temos alguns bolsões de garimpeiros que estão se escondendo em algumas áreas, então estamos vasculhando a terra com um pente fino”, afirmou.

Em tempo: Mais uma encrenca envolvendo o empresário Rodrigo Martins de Mello, vulgo “Rodrigo Cataratas”, na Terra Yanomami. Suspeito de envolvimento com o garimpo ilegal no território indígena, Cataratas teve uma de suas empresas de transporte aéreo contratada pelo governo federal na gestão Bolsonaro para transportar profissionais de saúde e indígenas Yanomami. A empresa faturou R$ 7,4 milhões, mas descumpriu o contrato e deixou de fazer o transporte em diversas ocasiões nos últimos dois anos. A notícia é da Folha.

ClimaInfo, 23 de março de 2023.

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