Ondas de calor pressionam Índia no limite da habitabilidade

ondas de calor Índia
Ruhani Kaur/Bloomberg

Enquanto caminha para se tornar a nação mais populosa do planeta, a Índia também vive o risco de se transformar num lugar onde a existência humana se torne impossível. Ondas de calor cada vez mais quentes e frequentes vêm assolando o país. E a culpa é da crise climática, explica o climatologista Kieran Hunt, da Universidade de Reading, no Reino Unido.

“Com o aumento global das temperaturas, por causa da mudança climática causada pelo homem, as ondas de calor estão ocorrendo em um ‘fundo’ mais quente. São, portanto, mais frequentes e mais extremas”, detalha o especialista no phys.org.

Depois de a Índia viver seu fevereiro mais quente desde 1901, com máxima média de 29,5oC em pleno inverno, o escritório meteorológico nacional previu um aumento da temperatura nas próximas semanas. Com isso, cresce também o medo de uma repetição da onda de calor recorde do ano passado, que causou danos generalizados à agricultura indiana e apagões de várias horas por todo o país.

O cenário deve ser ainda pior por causa do El Niño, previsto para este ano. “Com o aquecimento persistente da superfície do mar na região do Pacífico equatorial, o El Niño afeta a Índia causando redução da cobertura de nuvens e chuvas abaixo do normal, muitas vezes levando a secas e fortes ondas de calor, seguidas por uma estação de monções interrompida. A temperatura mais alta já registrada na Índia foi de 51°C, que ocorreu durante o forte El Niño de 2016”, explica Hunt.

Temperaturas de 50oC são insuportáveis em quaisquer condições. No entanto, na Índia, o dano é agravado para 1,4 bilhão de pessoas que vivem em cidades lotadas, sem acesso a moradias bem ventiladas ou ar condicionado. Por isso, Hunt alerta que a expansão da população e a urbanização acelerada aumentam os riscos de ondas de calor mais fatais no país, informa a Bloomberg.

Mais uma vez, os mais pobres são os mais ameaçados, também por causa das falhas do Estado indiano em auxiliá-los. O Telegraph mostra que planos governamentais de ação contra o calor no país falham em identificar e beneficiar grupos vulneráveis. Uma análise de 37 medidas mostra que a maioria delas não realiza explicitamente avaliações de vulnerabilidade, deixando as autoridades com poucos dados sobre para onde direcionar seus escassos recursos.

Em tempo 1: A temida “bomba populacional” pode não explodir, diz um novo relatório, encomendado pelo Clube de Roma, que estima que o número de humanos vai atingir um pico menor e mais cedo do que o previsto anteriormente – uma boa notícia para a preservação do planeta, pois deve diminuir a pressão sobre a natureza e o clima, bem como as tensões sociais e políticas associadas a ela. Se seguir as tendências atuais, a população mundial atingirá um teto de 8,8 bilhões antes da metade do século, e depois declinará rapidamente. Segundo o Guardian, o pico pode ocorrer ainda mais cedo, se os governos tomarem medidas progressivas para aumentar a renda média e os níveis de educação.

Em tempo 2: Idosos protestaram em várias cidades dos Estados Unidos contra bancos que financiam a produção de combustíveis fósseis. Autodenominando-se como a “Rebelião da Cadeira de Balanço”, eles participaram de mais de cem ações climáticas realizadas pelo Third Act, grupo de protestos para pessoas de 60 anos ou mais, cofundado pelo autor e ativista climático Bill McKibben. Seus alvos eram o Chase, o Wells Fargo, o Citibank e o Bank of America, apontados como os maiores investidores em projetos de combustíveis fósseis, em relatório de 2022 da Rainforest Action Network e outros grupos ambientais. Juntos, os quatro bancos investiram mais de US$ 1 trilhão entre 2016 e 2021 em petróleo e gás, informam o New York Times e o Washington Post.

ClimaInfo, 28 de março de 2023.

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