Seca restringe trânsito de navios no Canal do Panamá e ameaça abastecimento de água do país

Canal do Panamá seca
LUIS ACOSTA / AFP / METSUL METEOROLOGIA

A seca prolongada forçou autoridades do Panamá a reduzir o tráfego marítimo no canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e o Pacífico. É a quinta vez nessa temporada que a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) limita a passagem de navios de maior porte.

Dois lagos artificiais – Alhajuela e Gatun – na província de Colón que alimentam a estrutura esvaziaram por causa da falta de chuvas. “Este lago [Alhajuela] tem menos água a cada dia”, disse Leidin Guevara, que pesca no local. Segundo o ACP, entre 21 de março e 21 de abril, o nível de Alhajuela caiu sete metros – mais de 10%.

A água da chuva é usada no canal para movimentar os navios pelas eclusas, até 26 metros acima do nível do mar. A passagem de cada barco envolve 200 milhões de litros de água doce que desaguam no mar, o que torna vitais os lagos.

“A falta de chuvas impacta de várias maneiras, em primeiro lugar na redução de nossas reservas de água”, disse Erick Córdoba, gerente de água da ACP. Isso afeta os negócios do canal com as embarcações maiores, que pagam as taxas mais altas e ficam impedidas de passar, explica o Euronews.

Cerca de 6% do transporte marítimo global passa pelo canal, principalmente de Estados Unidos, China e Japão, informa o phys.org. No ano fiscal de 2022, mais de 14 mil navios transportando 518 milhões de toneladas de carga passaram pelo canal, contribuindo com US$ 2,5 bilhões para o tesouro panamenho.

Além de ser uma rota comercial, a bacia do Canal do Panamá também fornece água para mais da metade da população do país de 4,3 milhões de habitantes. A escassez tem causado cortes no abastecimento em várias regiões e aumentado a tensão, com múltiplos protestos. Especialistas alertam para possíveis conflitos por água, em meio a um crescimento urbano desordenado ao redor da capital, relata a Folha.

“Não queremos chegar a um conflito filosófico sobre água para os panamenhos ou água para o comércio internacional”, disse o administrador do canal, Ricaurte Vásquez. A seca no Canal do Panamá também foi noticiada por Marine Insight, MetSul e Reuters.

Em tempo: Um estudo do Instituto de Pesquisa do Impacto Climático de Potsdam alerta que El Niño de 2023 pode ser de moderado a intenso, o que pode resultar em fortes chuvas na Califórnia, ondas de calor na Europa e secas no Brasil e na Indonésia, prejudicando colheitas, como indica a Deutsche Welle, em reportagem reproduzida no UOL. Ainda existem dúvidas se o fenômeno natural tem piorado devido às mudanças climáticas, mas é fato que o reverso é verdadeiro: a sobreposição dos efeitos de El Niño com os eventos climáticos mais fortes devido ao aquecimento do planeta formam uma sobreposição perigosa.

ClimaInfo, 28 de abril de 2023.

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