A eletricidade da Venezuela entre o linhão Manaus-Boa Vista e o gás fóssil queimado em Roraima 

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A energia produzida pela hidrelétrica de Guri, na Venezuela, poderá voltar a abastecer Roraima – o único estado brasileiro não integrado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), rede que transporta energia elétrica por (quase) todo o país. A informação foi dada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Segundo o ministro, a retomada da integração energética com o país vizinho vai beneficiar os consumidores com energia limpa e barata. “É uma insanidade deixarmos de usar energia limpa para queimarmos energia fóssil e mais cara”, afirmou Silveira, em entrevista à CNN.

Guri foi inaugurada em 2001 por Fernando Henrique Cardoso, então presidente do Brasil, e Hugo Chávez, que presidia a Venezuela. A hidrelétrica pode escoar até 200 MW para Roraima. Nos primeiros meses de (indi)gestão do inominável, em 2019, em meio a apagões na Venezuela, o fornecimento de energia para o Brasil foi interrompido e nunca mais foi retomado.

Uma solução pensada para abastecer Roraima foi a implantação de uma linha de transmissão entre Manaus, no Amazonas, e Boa Vista, capital do estado. O linhão, de 715 km, foi leiloado em 2011. Entretanto, ainda não saiu do papel. Por um “pequeno” detalhe: cerca de 120 km da linha atravessam a Terra Indígena Waimiri-Atroari. Povo que foi ignorado no processo de licenciamento do projeto, sob responsabilidade da Transnorte Energia.

Em setembro do ano passado, supostamente houve um acordo judicial entre a Transnorte, o governo federal e os Waimiri-Atroari para compensar os indígenas e destravar as obras. À CNN, o ministro Silveira disse que não abriria mão do linhão, mesmo com o possível retorno da energia venezuelana. Em abril, a Folha de Boa Vista noticiou que, segundo a Transnorte, as obras do linhão estavam “a pleno vapor”.

Enquanto isso, Boa Vista vai recebendo energia elétrica da UTE Jaguatirica II, da Eneva. A usina começou a operar em fevereiro de 2022 queimando gás fóssil para produzir eletricidade.

O detalhe é que não há qualquer gasoduto ou jazida de gás na capital roraimense ou em seu entorno para abastecer a usina. O combustível fóssil queimado em Jaguatirica II é produzido pela própria Eneva no campo de Azulão, no Amazonas, a 1.100 km de distância de Boa Vista. Que chega na cidade por caminhões, em forma liquefeita. Ou seja, além de gás para gerar eletricidade, a usina queima óleo diesel usado pelos veículos de transporte e a própria eletricidade para liquefazer o gás fóssil e, depois, regaseificá-lo antes de alimentar as turbinas.O possível retorno do fornecimento de energia elétrica de Guri a Roraima foi destaque também nos Poder 360, Folha de Boa Vista e O Liberal.

ClimaInfo, 11 de maio de 2023.

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