Ameaças aos Povos Indígenas no Brasil: representante da ONU pede investigação sobre genocídio

ONU investiga genocídio Bolsonaro
Manuel / Elías (UN)

A subsecretária-geral da ONU e assessora para prevenção do genocídio, Alice Wairimu Nderitu, encerrou na última 6ª feira (12/5) a missão de análise da situação dos Povos Indígenas brasileiros. Por conta do que observou em campo, ela pediu que as autoridades do país façam uma investigação sobre a ocorrência de crime de genocídio contra os indígenas.

“Analisando os fatores de risco de genocídio e crimes de atrocidade em relação à situação dos Povos Indígenas, dos brasileiros afrodescendentes e de outros grupos de risco no Brasil, observo com preocupação que há um registro de graves violações das leis internacionais de Direitos Humanos contra esses grupos”, assinalou Nderitu.

A representante da ONU reconheceu que a situação de indígenas e quilombolas no Brasil piorou significativamente sob a gestão do ex-presidente Bolsonaro, que conduziu uma política de desmonte institucional e leniência com os crimes contra o meio ambiente e as populações tradicionais. De toda forma, ela também ressaltou que vários dos fatores que tornam essas comunidades vulneráveis ao risco de genocídio são estruturais no Brasil.

“Eu sei que na última administração (…) as vidas das populações indígenas ficaram mais precárias do que eram antes. Mas não vamos esquecer o quão estrutural e profundo esse problema é. O Brasil deve lidar com os problemas das populações indígenas e afrodescendentes. E encontrar uma liderança que consiga garantir que essas pessoas tenham uma vida mais digna”, disse.

A crise humanitária na Terra Yanomami foi um dos principais pontos tratados por Nderitu em sua passagem pelo Brasil. Ela afirmou ter testemunhado um discurso de ódio contra os Povos Indígenas em Roraima promovido por políticos e disseminado nas redes sociais. “Em Boa Vista, vivi em primeira mão o ódio expresso por meio de discursos de ódio dirigidos ao líder do Povo Indígena Yanomami, à sociedade civil e às Nações Unidas, em local público – eu mesma não fui poupada neste incidente de ódio”, afirmou.

Agência Brasil, g1, UOL e Valor repercutiram a fala da representante da ONU.

Em tempo 1: A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, confirmou números da Operação Libertação, realizada no último dia 5 para intensificar o combate ao garimpo ilegal na Terra Yanomami. A ação conjunta da Polícia Federal e do IBAMA resultou no bloqueio de R$ 138 milhões de grupos criminosos envolvidos com a exploração ilegal de minérios. Além disso, 43 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão foram executados. In loco, foram destruídos 70 balsas, 18 aviões, 12 helicópteros e 12 embarcações. 13 toneladas de cassiterita foram apreendidas. Via O Globo e Poder360.

Em tempo 2: O UOL publicou trechos de um relatório da FUNAI de agosto de 2022, encaminhado ao Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, no qual fez um mapeamento detalhado sobre o garimpo ilegal na Terra Yanomami. No documento, o então presidente da FUNAI, Marcelo Xavier, pediu providências “urgentes, efetivas e assertivas”. Entretanto, o então ministro (e agora recém-saído da cadeia) Anderson Torres engavetou o relatório, ignorando completamente a situação. Meses depois, a crise humanitária causada pelo garimpo estourou no território, resultando na morte de crianças e idosos Yanomami por desnutrição e malária.

ClimaInfo, 15 de maio de 2023.

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