Ativistas criticam insistência do G7 com novos investimentos em gás fóssil

G7 2023 fósseis
350.org Japan, Friends of the Earth Japan, Oil Change International

Mais uma vez, o balanço climático de uma cúpula do G7, grupo das sete maiores economias do mundo, foi negativo. A despeito das promessas protocolares de mais ambição na redução das emissões de gases de efeito estufa e na transição para fontes renováveis de energia, chamou a atenção no comunicado apresentado no último sábado a defesa de novos investimentos em produção e distribuição de gás fóssil.

O grupo ressaltou que os novos investimentos em gás seriam um passo “temporário” para lidar com os efeitos da invasão da Ucrânia pela Rússia, que tiveram grande impacto sobre o mercado global do combustível. O documento sustenta também que as novas estruturas deverão ser reaproveitadas para a produção de hidrogênio, em linha com os objetivos de transição energética de cada país.

“Na circunstância excepcional de acelerar a eliminação gradual de nossa dependência da energia russa, investimentos com apoio público no setor de gás podem ser apropriados como resposta temporária, sujeito às circunstâncias nacionais claramente definidas, se implementado de maneira coerente com nossos objetivos climáticos sem criar efeitos de aprisionamento [lock-in effects], por exemplo, garantindo que os projetos sejam integrados às estratégias nacionais para o desenvolvimento de hidrogênio renovável e de baixo carbono”, destacou o comunicado.

A defesa do gás fóssil foi uma das bandeiras da presidência japonesa do G7, sob o argumento falacioso de que ele seria um “combustível de transição” para fontes renováveis, a despeito de ser um combustível fóssil puro e simples. O governo da Alemanha também atuou para que o texto contemplasse novos investimentos na infraestrutura de gás, algo que virou central para a estratégia energética do país para se livrar da dependência da energia de origem russa.

“O endosso dos líderes do G7 ao gás fóssil é uma negação contundente da emergência climática”, comentou Tracy Carty, do Greenpeace International. “Uma das maiores ameaças de combustíveis fósseis hoje vem de uma indústria de gás natural liquefeito (GNL) em rápida expansão. O gás fóssil é uma das formas de energia mais poluentes e, em sua forma liquefeita, suas emissões de carbono podem ser tão ruins quanto as do carvão”.

“O G7, entre as nações mais ricas do mundo, mais uma vez provou ser um líder ruim no combate às mudanças climáticas. Falar da boca para fora sobre a necessidade de manter o aquecimento global abaixo de 1,5oC e, ao mesmo tempo, continuar a investir em gás mostra uma bizarra desconexão política da ciência e um completo desrespeito à emergência climática”, criticou Harjeet Singh, da Climate Action Network (CAN).

A insistência do G7 com o gás fóssil não foi a única frustração dos ativistas climáticos com o encontro em Hiroshima. A falta de qualquer sinalização dos países ricos em novos financiamentos para ação climática, em face à promessa não cumprida de destinar ao menos US$ 100 bilhões anuais para mitigação e adaptação nos países pobres, também irritou quem acompanhou as conversas do lado de fora.

“O G7 deve ao Sul Global US$ 8,7 trilhões pelas perdas e danos devastadores que suas emissões excessivas de carbono causaram. No comunicado do G7 em Hiroshima, eles disseram reconhecer que existe um novo fundo para perdas e danos, mas não comprometeram nenhum centavo”, destacou Max Lawson, da Oxfam International.Associated Press, Independent, NY Times e Reuters, entre outros, repercutiram o balanço indigesto do G7 na questão climática.

ClimaInfo, 22 de maio de 2023.

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