Reação da Petrobras a um vazamento na foz do Amazonas levaria quase dois dias

22 de maio de 2023
vazamento de óleo foz do Amazonas
Win McNamee/Getty

A Petrobras levaria quase dois dias para levar sua estrutura de remediação de vazamentos de petróleo, instalada em Belém (PA), até o bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas, na altura do município de Oiapoque (AP), onde a petroleira pretende perfurar um poço. Durante as longas 43 horas desse deslocamento, de cerca de 830 km, o petróleo derramado ficaria à mercê das fortíssimas correntes marítimas da região. Sem falar que o vazamento continuaria durante todo esse período, se a equipe local não conseguisse contê-lo.

O longo tempo de resposta em caso de eventuais desastres no FZA-M-59, em uma região de alta sensibilidade ambiental, foi um dos argumentos usados pelo IBAMA para negar a licença pleiteada pela Petrobras para perfurar um poço de petróleo na Foz do Amazonas. A companhia se propôs a mobilizar helicópteros e embarcações de apoio em casos de emergência, relata a Folha, mas tal proposta foi considerada insuficiente para garantir a segurança da operação.

Em até dez horas, segundo cálculos da equipe técnica do órgão ambiental, o óleo atingiria águas fora do território brasileiro, chegando à Guiana Francesa. “Mesmo nas melhores condições meteoceanográficas, o plano [da Petrobras] apresenta tempos de deslocamento de equipamentos e pessoal excessivos, tornando improvável o atendimento adequado a uma ocorrência com vazamento de óleo”, concordou, em seu despacho, o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho.

Desde que corroborou a decisão da equipe do órgão ambiental e negou a licença de perfuração à Petrobras, Agostinho vem reforçando que o IBAMA não toma decisões por pressões políticas, informa o g1. “O IBAMA é uma instituição de Estado, então não toma decisão por pressão política. É um órgão técnico. O IBAMA sofreu muita ingerência política nos últimos quatro anos e eu me senti muito à vontade para tomar essa decisão. É uma decisão amparada pelo corpo técnico do IBAMA”, disse.

Mas, ao que tudo indica, Petrobras, Ministério de Minas e Energia e políticos do Amapá, incluindo o senador Randolfe Rodrigues, que era da Rede Sustentabilidade, querem retornar aos tempos do governo do inominável e derrubar uma decisão técnica do IBAMA “na marra”. Mais especificamente, apelando ao presidente Lula para intervir no órgão ambiental.

A petroleira anunciou que entrará com um recurso no IBAMA contra a decisão do órgão ambiental até a próxima quarta (24/5), quando termina o prazo legal para tal medida, segundo o Valor. O questionamento seria natural, mas, a depender da data de sua realização, pode ter a ver com a volta de Lula ao país no dia anterior ao prazo-limite, quando retorna do encontro do G7.

Logo depois que Rodrigo Agostinho anunciou a negativa da licença, a Petrobras anunciou que iria desmobilizar a estrutura que montou em Belém para a perfuração do poço de petróleo – que, segundo a epbr, já custou R$ 600 milhões à empresa. E, ao que parece, sem qualquer geração efetiva de empregos na região. A companhia, porém, voltou atrás, após o apelo do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de que a petroleira mantivesse os equipamentos na área, relata O Globo. Pelo visto, Silveira quer pressionar Lula para reverter a decisão do IBAMA.

O embate entre as áreas ambiental e energética do governo a respeito da exploração de petróleo na Foz do Amazonas foi destacado também por Estadão e Folha.

Em tempo: O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e parte do chamado “mercado especializado” de petróleo e gás fóssil repetem exaustivamente que há um “imenso potencial” de combustíveis fósseis na foz do Amazonas e que a estatal petroleira nunca registrou acidentes na perfuração de poços. Mas a história mostra o contrário.

Levantamento da epbr mostra que a região tem quase 100 poços já perfurados, e nenhum resultou em descobertas significativas de petróleo – boa parte deles deu seco mesmo, sem uma gota de óleo. Em alguns casos, as perfurações foram finalizadas por causa de acidentes. E no final de 2011 a própria Petrobras teve de interromper uma perfuração de poço no antigo bloco BM-FZA-4, também na região do Oiapoque, no Amapá, porque a sonda de perfuração foi arrastada pelas fortes correntezas da foz do Amazonas. A petroleira só informou o fato em setembro de 2012, como lembra o Estadão, em matéria de 2013.

ClimaInfo, 22 de maio de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar