Lula deve vetar trechos da MP 1150 que facilitam desmatamento da Mata Atlântica

MP da Mata Atlântica
Zig Koch / SOS Mata Atlântica

Os “jabutis” que a Câmara dos Deputados voltou a inserir na MP 1150/2022 e que abriam uma porteira para a devastação da Mata Atlântica serão vetados pelo presidente Lula na sanção da medida provisória. Foi o que disseram o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o líder do governo no Senado, senador Jaques Wagner (PT-BA).

Na noite de quarta-feira (24/5) – a qual Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, chamou de “noite das boiadas”, tamanho foi o ataque à área ambiental por parte do Congresso, relata o g1 –, deputados ignoraram a impugnação determinada pelos senadores dos trechos que praticamente jogavam no lixo a Lei da Mata Atlântica. Os “jabutis” foram incluídos na MP por seu relator, o deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR) – ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), fiadora da bancada ruralista, lembra a Folha.

Em entrevista à GloboNews, reproduzida pelo blog do Valdo Cruz no g1, Alexandre Padilha afirma já existir um compromisso feito com o Senado que, se Lula barrar a proposta, o veto será mantido pelos senadores. “Pelo compromisso que temos com a sustentabilidade, minha posição, que foi firmada desde o começo é de vetarmos, não permitirmos a agressão à Mata Atlântica nessa medida provisória”, disse o ministro.

Padilha confirmou o que Jaques Wagner já havia dito antes e repetiu nessa quarta, frisa o Poder 360, após os deputados ressuscitarem os trechos pró-desmatamento. “Do ponto de vista dele [Arthur Lira, presidente da Câmara], aquela matéria era importante, recolocaram [os “jabutis”]. Eu sei que há o compromisso do veto”, afirmou o senador.

Horas antes do levante dos deputados, a Fundação SOS Mata Atlântica e o INPE divulgaram os dados mais recentes do Atlas da Mata Atlântica, que mostram que o bioma teve 20.075 hectares destruídos de outubro de 2021 a outubro de 2022. É uma área equivalente a cerca de 28 mil campos de futebol, cita o DW. Ou 125 Parques do Ibirapuera, em São Paulo, segundo a Folha.

O índice revela pequena redução em relação a igual período anterior (7%), mas em nível muito alto, destaca o Valor. A área desmatada é a segunda maior dos últimos seis anos e 76% acima do valor mais baixo registrado na série histórica, de 11.399 hectares entre 2017 e 2018.

Entre os cinco estados que mais destruíram o bioma – o mais devastado do país, vale lembrar –, quatro são presença constante na lista da devastação desde o início dos anos 2000: Minas Gerais, Bahia, Paraná e Santa Catarina, informa o Estadão. A eles se somam Mato Grosso do Sul e Piauí, em anos alternados.

A reinclusão dos “jabutis” na MP 1150 e os dados sobre desmatamento na Mata Atlântica também foram destacados por MSN, g1, Poder 360, Metrópoles, Correio Braziliense e UOL.

Em tempo: Não bastasse o desmatamento e os “jabutis” da MP 1150/22, a Mata Atlântica ainda está ameaçada em sua biodiversidade. Pesquisa divulgada pelo IBGE mostrou que, de um total de 11,8 mil espécies avaliadas no bioma, 24,1% estavam ameaçadas de extinção em 2022. O percentual equivale a 2.845 espécies em risco e considera fauna e flora em conjunto, informa a Folha. Tanto a proporção quanto o número absoluto superam os resultados dos outros seis biomas que aparecem no estudo. Além disso, o número de espécies extintas no bioma subiu de 7 para 8, com a inclusão da Perereca-gladiadora-de-sino (Boana cymbalum). A ameaça de extinção também foi destacada por Um só planeta, UOL, Agência Brasil e g1 também destacaram a ameaça de extinção de espécies da Mata Atlântica.

ClimaInfo, 26 de maio de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.