Projeto da Petrobras na foz do Amazonas preocupa Guiana Francesa

Guiana Francesa
Rudja Santos / Agência Pública

As pretensões da Petrobras para explorar petróleo na região da foz do Amazonas não levantam dúvidas apenas entre os analistas técnicos do IBAMA no Brasil. A Agência Pública foi até a vizinha Guiana Francesa para entender como a população local enxerga o projeto e os riscos ambientais associados a ele.

“Se acontecer um acidente com óleo e isso chegar aqui, a gente não vai ter o que comer. Aqui ninguém congela comida, a gente sai para pescar todo dia, e esse é nosso alimento”, disse o indígena Yves Tiouka, que vive em uma comunidade a quase 200 km da capital do território francês, Cayenne.

As projeções feitas até o momento indicam que, na eventualidade de um derramamento de óleo, o litoral da Guiana Francesa seria atingido em menos de 48 horas. Esse é quase o mesmo período de tempo que custaria para a Petrobras iniciar as ações de contenção de danos, o que significa um risco significativo de que o território vizinho seja invariavelmente afetado.

A Guiana Francesa não explora petróleo e não possui um plano de contenção em larga escala em caso de maré negra (derramamento de óleo no mar). Para piorar, boa parte do litoral do território francês é composta por áreas de mangues, o que inviabiliza qualquer ação protetiva.

“Em caso de acidente, o problema se tornaria internacional e entraria na área europeia, que tem leis bastante específicas. Do ponto de vista geopolítico e de conservação, isso pode ser negativo para o Brasil, que vem trabalhando para reaver uma atuação positiva no meio ambiental”, observou o pesquisador Marcelo Soares.

Esses riscos não são desconhecidos e nem estavam fora do radar da Petrobras. Até porque o mesmo IBAMA já tinha vetado o licenciamento de uma área nas proximidades do bloco atual em 2018, na época em que o empreendimento ainda estava sob responsabilidade da petroleira francesa Total, em termos muito parecidos com a negativa mais recente.

Míriam Leitão conversou com técnicos do IBAMA que analisaram o pedido da Total no final do governo de Michel Temer e eles foram contundentes. “O empreendedor, na época a Total e agora a Petrobras, não conseguiu provar que não tem risco, que consegue mitigar os danos, que consegue atuar em caso de desastre ambiental, que tem conhecimento da biodiversidade local a ser protegida. Ou seja, a Petrobras fez um mau serviço no pedido de licenciamento do IBAMA, assim como a Total”, escreveu n’O Globo.Já em Brasília, um cheiro de óleo queimado está tomando os corredores do Palácio do Planalto. Folha e Metrópoles noticiaram que o presidente Lula teria se sentido “traído” pela decisão do IBAMA sobre o projeto da Petrobras: de acordo com “interlocutores do governo”, ele teria pedido à área ambiental que esperasse até seu retorno da viagem do Japão, na semana passada, o que não aconteceu.

ClimaInfo, 26 de maio de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.