Energia limpa e Nordeste: como a Petrobras pode crescer sem precisar explorar a Foz do Amazonas

Nordeste energia limpa
Ari Versiani/PAC

A Petrobras pediu reconsideração ao IBAMA sobre a decisão do órgão ambiental de negar a licença de perfuração de um poço na Foz do Amazonas. A companhia e parte do “mercado especializado” defendem que a exploração da Foz é a única saída para repor as reservas brasileiras de petróleo – isso sem mesmo saber se há óleo em quantidade suficiente. Entretanto, especialistas garantem que, além de outras áreas ambientalmente seguras para exploração, a Petrobras deveria se preocupar menos em achar petróleo e mais em investir em fontes renováveis de energia.

Mahatma dos Santos, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ponderou que a Margem Equatorial – região litorânea entre o Amapá e o Rio Grande do Norte que inclui a Foz – não é a única alternativa brasileira ao pré-sal. Ao Brasil de Fato, ele disse que geólogos já apontam outras áreas que podem ser estudadas e eventualmente exploradas – nenhuma delas em uma região tão ambientalmente sensível como às vizinhas à Amazônia.

Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, também vê a Petrobras bem posicionada para superar o declínio natural da produtividade do pré-sal. E não acredita que a rentabilidade da empresa continuará vindo do petróleo. Para ele, as mudanças climáticas e a evolução tecnológica reduzirão a dependência da sociedade do óleo e seus derivados. Levando isso em conta, produzir petróleo daqui a 10 ou 15 anos pode não fazer sentido economicamente.

A economia tem sido o argumento usado por políticos do Amapá – onde fica o bloco FZA-M-59 – para defender a exploração de petróleo na região. Entretanto, mostra o Correio Braziliense, diferentemente do que os políticos alegam, o estado ocupa a 12ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com IDH de 0,780, o Amapá segue em uma tendência de avanço no critério desenvolvimento.

O Amapá detém 73% do território de Área Protegida, divididos entre Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Os políticos amapaenses enfatizam que a população não pode ser penalizada por ter cuidado com as riquezas naturais do país. Mas, nos territórios preservados, há uma população, os chamados Guardiões da Floresta, contrários à exploração de petróleo na Foz.

Diante dessa pressão pró-petróleo, Côrtes reforça ao Um só planeta que a decisão do IBAMA foi técnica, mas “um problema que era técnico acabou virando político”. “Nós temos efetivamente uma cisão dentro do governo, que também foi agravada pelo posicionamento do Alexandre Silveira. Então, como se não bastasse o presidente Lula tendo que compor uma base parlamentar com um Congresso bem mais conservador, tem o próprio governo que conspira contra ele mesmo”, explica.Para reforçar ainda mais o caráter técnico da decisão sobre a Foz, o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, lembrou que o órgão ambiental já concedeu 23 licenças para a Petrobras somente neste ano, informa o Metrópoles. E que apenas uma, a da perfuração na Foz, foi negada. Ao todo, a petroleira tem 100 pedidos de licença sob análise do IBAMA.

ClimaInfo, 30 de maio de 2023.

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