Novos estudo ambientais sobre a exploração de petróleo na Foz do Amazonas demorariam dois anos 

Foz do Amazonas lotes
Reprodução Twitter @FilhoFrancini / @sotobanha

As pesquisas para verificar a viabilidade (ou não) da exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas levariam pelo menos dois anos para apontarem resultados concretos sobre a atividade na região. É o que aponta o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), o oceanógrafo Nils Edvin Asp. Com pós-doutorado em geomorfologia costeira pela Universidade de Washington, Asp é taxativo em dizer que a Petrobras errou na sua estratégia de tentar aprovar no IBAMA a perfuração de um poço no bloco FZA-M-59, na costa do Amapá.

“Requentaram o estudo da [petroleira] BP de 2018 e incorporaram uma modelagem conveniente, ao invés de financiarem um novo estudo aplicado à exploração de óleo. É preciso que se faça um estudo de qualidade, mas não vejo como ser viável um prazo inferior a dois anos”, destaca o professor a ((o))eco.

Asp reitera que o Brasil precisa decidir se quer financiar a descarbonização de países ricos, ao explorar novas jazidas de óleo e gás, ou se vai caminhar com uma política firme para substituir o quanto antes os combustíveis fósseis. E denuncia o discurso político enviesado em prol da exploração de petróleo, que não expõe os efeitos perversos dessa estratégia de desenvolvimento socioeconômico.

“Existe uma pressão muito grande. Pressão dos governadores, dos políticos, senadores, deputados da região Norte. Mas eles estão vendendo para a população como se fosse uma riqueza que vai brotar na terra imediatamente. Não é bem assim”, explica o especialista.

O olhar além do possível – mas não comprovado – ganho financeiro da exploração de petróleo da Foz do Amazonas também é reforçado pelo professor André Cutrim, do núcleo de meio ambiente da UFPA. Como exemplo, o especialista cita ao Valor a hidrelétrica de Belo Monte, que prometeu emprego, renda e energia elétrica farta, mas entregou estragos ambientais incorrigíveis, pobreza, violência e menos eletricidade do que se esperava.

“Essa área da Amazônia [a foz do Amazonas] que é de fronteira, vai muito além de pensar no retorno econômico. Os custos da exploração serão muito maiores nos curto e longo prazos. Não nego que podemos vislumbrar ganhos financeiros no futuro, isso pode ser uma fonte de recursos para o Brasil. Mas a que preço? A que preço vamos levar esse modelo adiante?”, questiona Cutrim.

Apesar de todos os questionamentos quanto à segurança e à necessidade de se explorar petróleo na foz do Amazonas, a Petrobras recorreu ao IBAMA para reconsiderar sua negativa na licença de perfurar um poço no FZA-M-59. A petroleira recorreu até mesmo ao Acordo de Paris [????] para que o órgão ambiental autorize a atividade. E ampliou o argumento [????] para toda a Margem Equatorial, que vai do Amapá até o Rio Grande do Norte.

“A decisão administrativa em questão, ao desconsiderar que a exploração da Margem Equatorial está alinhada com a política ambiental e energética brasileira, evidencia comportamento contraditório da Administração Pública em relação aos compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris, e compromete a segurança jurídica para os investimentos em energia no país”, diz o documento de 26 páginas ao qual a CNN teve acesso e que detalha os argumentos do pedido de reconsideração.

O IBAMA recebeu o pedido de reconsideração da Petrobras na quinta-feira (25/5). O órgão ambiental respondeu que analisará o recurso, segundo o g1. “O Instituto vai analisar novamente a proposta e discutir tecnicamente as alterações apresentadas no novo pedido”, diz a nota, divulgada na sexta pelo IBAMA.

O recurso da Petrobras ao IBAMA sobre a perfuração na Foz do Amazonas foi noticiada também por Veja, Folha, InfoMoney, Poder 360, UOL, Estadão, Correio Braziliense, Valor, TV Cultura e Carta Capital.

Em tempo: O fim da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) anunciado pela Petrobras está sendo questionado na Justiça Federal de São Paulo. A mudança é alvo de uma ação popular protocolada ontem na 17ª Vara Federal Cível do estado por dois advogados, Rafael Mortari e Adilson Bolico, com apoio do Instituto Ibero-Americano da Empresa. Segundo Lauro Jardim, d’O Globo, a ação pede que o PPI seja restabelecido, enquanto se discute judicialmente a nova fórmula a ser adotada pela estatal. Além disso, querem que a Petrobras seja obrigada a explicar à Justiça como pretende substituir a política de precificação baseada no mercado internacional, que foi criada na gestão do ex-presidente Michel Temer. Money Times, Investing.com e InfoMoney também repercutiram a ação judicial.

ClimaInfo, 29 de maio de 2023.

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