Crise climática, desmatamento e o cerco aos investimentos insustentáveis

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“É a economia, estúpido!” A frase atribuída a um assessor do ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, está, enfim, sendo absorvida pelo setor financeiro, que tem de considerar que as mudanças climáticas são uma realidade e que é preciso cortar o financiamento a segmentos econômicos que contribuem com o desmatamento e a destruição ambiental. Senão pela preservação do planeta e sobrevivência da humanidade, ao menos para o próprio bolso.

Com as regras cada vez mais rígidas da União Europeia contra produtos que tenham relação com o desmatamento na Amazônia, a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) resolveu agir. Os bancos do país agora só poderão conceder crédito para frigoríficos e matadouros que comprovarem que não compram gado de abate proveniente de áreas de desmatamento ilegal da Amazônia.

A decisão vale para fornecedores diretos e indiretos e faz parte de um protocolo comum de autorregulação para a cadeia de carne bovina aprovado pela FEBRABAN para combater o desmatamento na região, informa o Estadão. Até segunda-feira (29/5), 21 bancos tinham assinado o protocolo, entre eles os maiores do país: Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e Caixa. O sistema precisa entrar em funcionamento até dezembro de 2025.

Como a questão ambiental é a principal barreira ao acordo entre União Europeia e Mercosul, pessoas envolvidas nas tratativas afirmam que a autorregulação dos bancos pode ter impacto na negociação, aponta o Estadão. O tratado está emperrado porque os europeus fizeram novas exigências de compromissos ambientais em março. O governo Lula promete concluir o acordo ainda este ano.

O crédito para o agronegócio está escasseando também numa outra frente: o mercado de carbono. Isso porque os créditos de carbono passam por um momento de questionamento global. A causa é a Verra, líder mundial em certificação de projetos de preservação ambiental, que é suspeita de validar indevidamente créditos para grandes empresas e deixa uma mancha sobre um mercado que ainda carece de regulamentação, destaca o AGFeed.

E como não dá mais para tapar o sol – leia-se “crise climática – com a peneira, autoridades têm cobrado que os bancos mensurem e calculem melhor os riscos climáticos nas suas carteiras. Uma pesquisa da Bain e da consultoria de análise de risco climático Jupiter Intelligence analisou os 50 maiores bancos globais. Segundo o Valor, a conclusão é que se eles não fizerem nada para se adaptarem às mudanças climáticas, terão uma queda de 8,5 pontos percentuais no lucro operacional líquido das suas carteiras imobiliárias.

O mercado de seguros é outro segmento financeiro que vem colocando os desastres climáticos no radar – ou melhor, na sua precificação. E não à toa: segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), a participação dos desastres naturais no volume de indenizações de seguros patrimoniais alcançou 50% do total de R$ 1,4 bilhão pagos em 2022, informa o Valor. O planeta cobra a conta. E ela é cara.

ClimaInfo, 31 de maio de 2023.

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