A insistência do Centrão e os temores do governo em ver a MP da reestruturação da Esplanada dos Ministérios expirar (e, com isso, impor a configuração do antigo governo ao atual) forçaram o Palácio do Planalto a reconhecer a derrota na disputa pela recomposição de responsabilidades e papéis nos Ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas.
O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta 3ª feira (30/5) que o Palácio do Planalto deve atuar pela aprovação do texto do relator da MP no Congresso, deputado Isnaldo Bulhões, mesmo com o enfraquecimento que ele impõe às estruturas dedicadas à política ambiental e indigenista dentro do governo.
“Reafirmo que vamos defender o relatório do jeito que está. Não digo que é o relatório ideal para o governo, mas foi uma construção com a Câmara e o Senado”, disse Padilha. Segundo o ministro, o governo seguirá tentando convencer seus aliados no Congresso a mexer no texto, mas não deve fazer uma movimentação política mais significativa. Folha e O Globo deram mais informações.
O mesmo tom foi incorporado pelo líder do governo no Congresso Nacional, o senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP). O parlamentar afirmou que o governo buscará restaurar o texto original da MP, mas que considerará uma eventual aprovação da proposta do relator uma “grande vitória”. Exame, Folha e Valor abordaram o dilema do Planalto no Congresso.
A despeito das falas do Planalto e do líder do governo no Congresso, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reafirmou que seguirá trabalhando para reverter as mudanças propostas pelo Legislativo à pasta. “O presidente Lula deu uma mensagem de que vamos trabalhar até o último momento para preservar as atribuições do Ministério do Meio Ambiente, dos Povos Indígenas, e disse que vamos continuar com o propósito do nosso programa de que essas políticas estão no coração do governo”, disse a ministra, citada por Folha e g1.
Por falar em Marina Silva, a ministra foi alvo de comentários maldosos do senador Davi Alcolumbre (UB-AP), na esteira da crise política causada pelo veto do IBAMA à exploração petroleira no litoral do Amapá. Questionado pelo Estadão, o ex-presidente do Senado foi irônico e disse que a ministra “é gente boa” e que “é bom ela ficar para ir lá com a gente inaugurar o poço [de petróleo]”. Alcolumbre estaria atuando para forçar a queda de Marina do governo e sua eventual substituição pelo senador (e agora adversário político da ministra) Randolfe Rodrigues.“A declaração ofensiva e misógina de Alcolumbre em relação à ministra do Meio Ambiente volta-se, na verdade, contra ele”, destacou Míriam Leitão no jornal O Globo. “Ele demonstrou menosprezo a uma brasileira que deveria respeitar. Marina, sob a liderança do presidente Lula, iniciou em 2003 o processo virtuoso que levou o desmatamento de 27,7 mil km2 em 2004 para 4,6 mil km2 em 2012. A política implantada por ela foi mantida e fortalecida pelo seu sucessor, o ministro Carlos Minc. E isso foi, a seu tempo, a maior contribuição de um país na luta contra a mudança climática”.
ClimaInfo, 31 de maio de 2023.
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