Antenas da Starlink, de Elon Musk, são vendidas para garimpo ilegal na Amazônia

Starlink Bolsonaro Musk
Reprodução/Twitter

Recebido em maio do ano passado no Brasil com pompa, circunstância e doses de fanatismo por apoiadores do governo do inominável e pelo próprio ex-presidente, o megalomaníaco empresário Elon Musk anunciou que levaria internet via satélite a 19 mil escolas da Amazônia, por meio de sua empresa Starlink. Um ano depois, 18.997 desses estabelecimentos não viram as antenas da empresa. Já nos garimpos ilegais, elas estão sem maiores problemas.

Até agora, a empresa de Musk só levou internet a três escolas estaduais no Amazonas, informa o UOL. As antenas foram doadas em setembro como uma “demonstração do serviço”, mas não houve novas instalações desde então.

Hoje, segundo dados da Anatel, ainda há mais de 5 mil escolas sem internet na região. Em outubro do ano passado, o governo do inominável abriu um edital para provedores de internet interessados em fornecer banda larga a 6,9 mil escolas. A “salvadora” Starlink, porém, não participou da concorrência.

Se está longe das escolas públicas, a empresa de Musk continua vendendo suas antenas para entes privados e atingiu a marca de 50 mil clientes no Brasil, incluindo garimpos ilegais na Amazônia, onde as antenas têm sido apreendidas pela fiscalização. Elas podem ser compradas em grupos de garimpeiros no WhatsApp e no Facebook. Questionada, a Starlink não respondeu.

Tales Faria, do UOL, lembra que não é de hoje que bilionários estrangeiros como Musk têm olho grande na Amazônia – e não pela preservação ambiental. Os estadunidenses Daniel Keith Ludwig, do Projeto Jari, nos anos 1960, e Henry Ford, da Fordlândia, nos anos 1920, quiseram substituir a selva pela monocultura de celulose e borracha, respectivamente.

“A diferença de Daniel Ludwig e Henry Ford para Elon Musk é que os dois ainda pretendiam – bem ou mal – produzir algo por aqui. Se desse certo, trariam alguma riqueza e empregos. Elon Musk, ao que parece, foi só um gesto de esperteza para vender seus produtos na Amazônia, usar umas poucas – pouquíssimas – escolas como marketing e arrancar nosso dinheiro.”

A expansão das antenas de Musk nos garimpos ilegais dificulta as ações contra o crime, admitem fiscais ambientais. Mas as operações continuam e vão causando prejuízos aos garimpeiros.

Na Terra Indígena Yanomami, agentes do IBAMA, PF, PRF e FAB destruíram um avião e instalações de garimpo ilegal, informa o g1. No Mato Grosso, duas operações, da PF e do Exército, foram encerradas na sexta-feira (2/6), com a apreensão de mais de R$ 2,1 milhões e o desmonte de três garimpos ilegais dentro da TI Sararé, a 562 km de Cuiabá, relatam g1 e Jornal Nacional. E no Pará, segundo o g1, seis áreas de garimpo ilegal foram fechadas pela PF em Cumaru do Norte, no sudeste do estado, no projeto de assentamento João Lanari do Val, onde também resgatou 24 trabalhadores em condições semelhantes às de escravidão.

A devastação causada pelo garimpo ilegal em Terras Indígenas é retratada no documentário “Escute, a Terra foi Rasgada”, produzido pela Aliança em Defesa dos Territórios e outras entidades e parceiros e lançado no domingo (4/6). O filme oferece uma imersão na luta dos Povos Kayapó, Yanomami e Munduruku contra o crime em seus territórios, conta o Brasil de Fato.

Em tempo: O Ministério da Justiça e Segurança Pública lançou nessa segunda-feira (5/6) uma estratégia nacional para combater o narcotráfico em Terras Indígenas. O objetivo é coibir o avanço de traficantes e a escalada de crimes socioambientais que ameaçam as Comunidades Tradicionais, sobretudo na Amazônia, segundo O Globo. Entre as iniciativas está o lançamento de um edital de R$ 3 milhões para financiar o desenvolvimento de ações para combater situações de vulnerabilidade social de Povos e Comunidades Tradicionais da Amazônia Legal. O edital poderá contemplar até 30 projetos de organizações da sociedade civil que comprovem o histórico de apoio a redes e coletivos locais e regionais.

ClimaInfo, 6 de junho de 2023.

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