As zonas costeiras do Amapá, Pará e Maranhão abrigam os maiores manguezais do planeta. São “bombas” de carbono que começam a demonstrar, em novos estudos científicos, o potencial nas estratégias de mitigação de gases-estufa, devido às características locais. Entretanto, tudo isso pode ir pelo ralo, diante da pressão para explorar petróleo na Margem Equatorial, e em particular na foz do Amazonas.
A área onde a Amazônia “beija” o Oceano Atlântico abriga 80% dos manguezais brasileiros, com a maior faixa contínua desse ecossistema no mundo, detalha o Valor. Tem como diferencial a grande quantidade de lama com matéria orgânica e nutrientes levada pelo rio Amazonas. Por isso, estima-se que esses manguezais sejam capazes de estocar pelo menos duas vezes mais carbono que a floresta, e até cinco vezes, considerando os solos.
“É uma região ecologicamente muito sensível, de correntes oceânicas fortes e grande variação de marés. Há riscos dos manguezais, em vez de capturar e reter carbono, como agora, se tornarem grandes emissores”, afirma Marcus Fernandes, coordenador do Laboratório de Ecologia de Manguezal (Lama), da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Nada disso, porém, convence os defensores da exploração de petróleo na foz do Amazonas. Numa promessa bastante duvidosa, integrantes do governo querem propor a criação de um fundo ambiental com recursos oriundos dos combustíveis fósseis que projetam extrair na região para a proteção da floresta, relata a Folha.
Enquanto espera uma resposta do IBAMA sobre sua apelação à negativa do órgão ambiental para perfurar um poço de petróleo na foz do Amazonas – e que não tem prazo para ocorrer –, a Petrobras decidiu, enfim, desmobilizar a estrutura que montou em Belém (PA) para a atividade, informa O Globo. Mas, segundo a Folha, a empresa já está preparada para dar entrada em um novo pedido de licenciamento, se o IBAMA mantiver a posição no atual processo.
Em entrevista ao Valor, o presidente da petroleira, Jean Paul Prates, mostrou-se menos enfático na defesa da exploração da foz. Disse que “se o Estado decidir que não deve ser explorado agora ou o poço não deve ser perfurado, não tem problema”. E falou que “o novo IBAMA é melhor, mais consciente” e que não seria ele a dizer que “o IBAMA não serve ou que está fazendo mal ao país”.
Prates ainda contou que teve uma conversa “de ambientalista para ambientalista” com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. E que Marina lhe disse que a Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) – estudo apontado como essencial para verificar o impacto da atividade petrolífera na Foz do Amazonas e que vem sendo cobrado pelo IBAMA – pode ser feita em 2,5 anos. Só não disse se a empresa estaria disposta a aceitar esse prazo.
Em artigo n’O Globo, a professora do Instituto de Relações Internacionais da USP, Danielle Hanna Rached, chama atenção para os compromissos que o governo Lula assumiu na defesa do meio ambiente e de um modelo de desenvolvimento sustentável. E isso exclui a busca por novas reservas de petróleo, não apenas na foz do Amazonas, mas em qualquer outra região.
ClimaInfo, 6 de junho de 2023.
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